6 de jul. de 2011

Parte 11 - No porta malas

Escrito por Mayra Ghizoni.
Eu estava dividida. Incontestavelmente. Por um lado, quem me fazia bem e quem me apoiou em todos os momentos até aqui, tivera sido o Jean. Ele era todo fofo, atencioso e educado... tudo o que uma mulher precisa na vida. Mas possuía um defeito imperdoável, o de se entregar. O medo. Presumindo-se que o que ele me dissera naquela ocasião fosse verdade, definitivamente se drogar o dia inteiro não resolveria problemas, muito menos farias as coisas caírem do céu. Se ele me queria ao seu lado, teria feito de tudo pra voltar. Qual é a dificuldade em pegar a porra do telefone e me ligar? Ele sabia onde eu morava, os lugares os quais eu freqüentava, POR QUE DIABOS não foi até lá? Isso não é se humilhar, isso é demonstrar sentimentos! Mas como nem toda cabeça pensa em equidade – principalmente a dos homens -, o animal pensou que não se arrastaria aos meus pés, pois não é do feitio da sua espécie se humilhar e pedir pra voltar, ou até mesmo pedir desculpas pelo que nunca foi dito.

Sua namorada te deu um pé? Coloque-se no lugar dela e reveja as suas atitudes. Em especial, se faça a pergunta: O que você sente por ela? Se a sua resposta for algo do tipo: “que merda, eu sinto a falta dela quando vou assistir aquele seriado meloso que passa na TV” ou “bah, só ela sabia fazer aquele macarrão ao molho madeira sem cebola e com bastante queijo...” é, amigo, você a AMA. Vai lá e liga pra ela. Não por MSN né, ô anta. Olho no olho, cheiro com cheiro. Faça ela acreditar em você como no início, como quando vocês se beijaram pela primeira vez. Mas o faça com sinceridade. Chore, se for preciso, não se envergonhe disso!

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Bah, só ela sabia fazer aquele macarrão ao molho madeira sem cebola e com bastante queijo, aquele amorzinho na praia...


Agora, se a sua resposta for: “Nossa, ela pagava um boquete como nenhuma outra” ou então “puts, a desgraçada ficou com o meu DVD dos Rolling Stones”, aí o caso muda de figura. Aí, definitivamente você sente paixão, atração ou qualquer outra coisa insignificante por essa guria. Mas lembre-se: nunca diga “amo você” quando tu não tem certeza do que sente. Não ceda à pressão da sua namorada que fala isso 650 vezes por dia pra ti. Simplesmente beije-a, mas não diga. Se acaso disser, amigo, melhor levar até o final e sustentar a sua versão, por que se ela descobrir que tu é um canalha que só queria comê-la, você nunca mais terá paz na vida. Vai por mim.

O Cadu era aquilo, sonho de consumo de toda guria que se preze. Lindo, envolvente e cheiroso. Mas era um bosta. Típico dos homens galãs. Pode ver, se tu encontrar um cara desse na balada, saia de perto. Você vai acabar caindo naquele papo de: “Uau, gata, seu vestido é lindo, me dá um beijo?” ou então: “meu deus, onde é que eu estava que não te conheci antes? Me passa teu número, vamos sair um dia desses” - CILADA, BINO.

Mas era aquilo, eu queria ficar com os dois. Como assim Anne, se ligue, pega o Cadu e deu pra bola, tu não quer se apaixonar por um canalha desses né. É, amigos, como vocês bem devem saber, retroagindo à data do prefácio, eu escolhi ficar com o Cadu. E a Thayse me odiou pra sempre. Mas ainda falta um bom pedaço da história que não contei para vocês. Segue.

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Tentei arrancar mais alguma informação da minha mãe, sem sucesso. Ela devia estar muito chapada pra ter dito aquilo né, qual é, soltar uma informação preciosa dessas e voltar a dormir instantaneamente? Deixei pra lá o assunto e saí do hospital, em direção à faculdade (é, eu ainda estudo, lembram?). Tinha deixado o carro estacionado bem em frente ao Hospital, portanto, fui caminhando em passos curtos e vagarosos, pensando no trabalho de marketing que eu tinha de entregar. Entrei no carro, e imediatamente abri o porta-luvas à procura do rádio. O que eu iria ouvir hoje? Afinal, a faculdade ficava a cerca de 30 minutos dali, dava tempo tranqüilo de ouvir um bom cd. Fiquei cerca de 4 minutos procurando, até que encontrei um cd dos Killers. “When You Were Young” era uma boa pedida.

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When We Were Young


Ao levantar a cabeça para colocar o cd, um homem encapuzado surgiu à minha frente com um pé de cabra e quebrou o vidro. Só deu tempo de colocar as mãos nos olhos, na tentativa de me proteger, NÃO SEI DO QUE NÉ, nem o The Flash conseguiria evitar o choque. Senti os cacos vindos todos na minha direção e me cortando a pele exposta. “Morri”, pensei.

Simultaneamente abriram a porta do carro e me puxaram lá de dentro. O filhodaputa acabou esgaçando a minha blusa de lã mais cara. Odiei esse marginal com todas as minhas forças, afinal, blusa de lã não tem apólice de seguro. Consegui a muito custo gritar um “tira a mão de mim” e um “AAAAAAAAAAAAAAAAAH”, mas, pra variar, quando tu mais precisa não tem um mísero transeunte de merda pra desconfiar de algum movimento estranho na rua EM FRENTE AO HOSPITAL.

Quando tentei dar um “coice” no saco do bandidinho que havia me tirado do carro à força, o outro, que tinha quebrado o vidro, me enfiou um pano embebido em alguma coisa muito fedida nas minhas vias respiratórias. Quem acompanha CSI, NCIS ou até mesmo as novelinhas da rede Globo, já deve saber que aquilo continha éter. Desmaiei na primeira fungada.

Ao recobrar os sentidos, percebi que estava deitada amarrada com as mãos para trás, bem como meus pés envolvidos em algum tipo de fita isolante até mais ou menos na altura dos joelhos. Como os caras não são burros e assistem direitinho os episódios das séries supra- citadas, amordaçaram minha boca também com fita isolante. Entrei em desespero ao perceber que estava dentro de um porta-malas, visto que o barulho e os solavancos eram inconfundíveis. Permaneci quieta, afinal, de que adiantaria ficar chutando a lataria e emitindo sons inaudíveis e ininteligíveis do tipo: “hmmmmmm hmmmmmmmmmm hmmm!!!!!” ou “fgzxszhmfgmhxzssxffdfgff!!!” ? Isso só faria o nível de adrenalina dos marginais subir em níveis elevadíssimos. Eles não hesitariam em me jogar penhasco abaixo, ou me deixar no meio da auto-estrada mesmo.

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Talvez ser jogado de um penhasco não seja uma má idéia pra quem está trancado num porta malas num carro sem destino.


Enquanto pensava em como/quando/onde/por que eles me executariam como uma indigente ou fugitiva nº 01 dos EUA, consegui captar algumas palavras que estavam sendo proferidas no interior do veículo. Eles estavam discutindo.

- Não interessa! ... fugindo sem... errado! – uma voz masculina firme e agitada. Ele estava gritando.

- Cala essa boca! Não era... hein?! ... Se livra! – uma segunda voz disse, praticamente no mesmo tom da primeira, também era um homem.

Mantiveram-se em silêncio após a discussão, aparentemente sem resultados objetivos. Tentei raciocinar. Será que só havia 2 pessoas no interior do veículo? Dois bandidos sem propósito firmado? Pelas vozes eles pareciam jovens, não menos que 25 anos. Estavam nervosos, o primeiro quis dizer que o que eles estavam fazendo era errado. Provavelmente é o cagão do bando. Sempre tem. Deve ser o que vai entregar todo mundo no final pra tentar se livrar da culpa. Otário; o segundo parecia seguro, porém sabia que teria que se livrar de algo...ou alguém, no caso eu, com certeza.

De repente, o carro estava diminuindo de velocidade. Eles estavam manobrando para a direita, iriam estacionar.

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