29 de jun. de 2011

Nove

Escrito por Fabricio Cantarella
Era por volta das oito horas da manhã quando a primeira armadilha foi encontrada. O pelotão 8 subia uma encosta, não ingreme, com uma inclinação leve apenas, mas era um tanto longa. A vegetação era mais esparsa, com um caminho até bem definido para o topo da encosta. Lá em cima porém, a vegetação tornava-se mais densa. Nessa hora, o pelotão era liderado apenas por Gus, o Sgto. White, ficara na retaguarda assim que entraram na área das armadilhas para fim de avaliação do desempenho dos recrutas. Eles subiam agachados, seguiam uma tática de proteção enquanto avançavam pela subida, Gus sabia que, mesmo sem ver o inimigo, uma encosta é sempre um local propício a um ataque, afinal, a parte mais alta proporciona uma vantagem considerável sobre quem está caminhando pela subida. Eles tinham passado por quase toda a extensão da encosta e nada tinha acontecido, Gus estava começando a imaginar que não havia armadilha nenhuma naquela encosta, um desperdício de encosta por sinal, uma vez que uma armadilha alí seria quase que mortal. Por um segundo ele pensou em abdicar da tática de proteção e assumir uma marcha normal para avaçarem mais rápido. E por um segundo ele salvou seu pelotão de falhar logo na primeira armadilha. Um drome começou a disparar de dentro da vegetação que se cerrava no topo da encosta assim que os recrutas tornaram-se visíveis para quem estava la em cima. Assim que as balas começaram a zunir por sobre suas cabeças, o pelotão 8 tratou de buscar proteção na beira do caminho que seguiam, Gus, que havia pulado para trás de uma pedra para se proteger do tiros gritou:

- Recrutas! Avançem através das árvores nos intervalos das rajadas. Todos juntos!

battlefield_floresta
Avançem com cuidade recrutas!


O pelotão, que havia se dividido entre os dois lados da estrada, continuou a subida a cada intervalo entre as rajadas de tiro. Gus não tinha conseguido ver o que atirava e nem de onde vinham as balas que estouravam nas árvores ao seu redor liberando uma tinta vermelha. Olhou para seus soldados que avançavam sempre que possível, ele estava começando a se desesperar, não conseguia identificar o inimigo, apesar de manter seus soldados bem posicionados e evitar que se aparovassem, ele próprio não conseguia superar o nervosismo e começava a sentir que podia estar levando todos para a falha. Billy passou por ele, seguro de si, com Joseph logo em seguida, subiam protegidos pelas árvores, abriam caminho para outros três soldados que seguiam, todos os cinco organizados, bem treinados, apesar das poucas semanas desde a apresentação ao exército norte-americano. Billy colocou-os numa posição ofensiva de repente, Gus apenas observava, seguindo por entre as árvores, sabia que devia liderar o grupo, porém não sabia o que estavam tentando fazer então decidiu ser melhor não atrapalhar, o restante do pelotão subia a encosta ainda em formação defensiva, se protegendo dos tiros.

- Vocês três, sigam pela direita, contornando aquela pedra. Eu e Joseph continuaremos por aqui, se encontrarem o local de onde estão atirando, descam bala!
- Beleza Billy! Vamos!
- Continue abaixado Joseph. Gus! Cubra a retaguarda e fique de olho pra ver se localiza a fonte dos tiros!

Gus espantou-se com o comando, por que Billy estava lhe dando ordens? Tudo bem eles agirem daquela maneira para liderar um pequeno ataque, uma vez que estavam melhor localizados e tinham um bom plano de ataque, mas dar ordem a um superior? Isso já era audácia, ele não passaria impune. O drome que cuspia balas em cima dos recrutas do pelotão 8 era controlado por um soldado que vivia na floresta, encarregado de manter todas as armadilhas e obstáculos funcionando para os treinamentos. Era um veterano da guerra ja, tinha sido engenheiro do exército, anos antes e agora havia sido aposentado e mandado para viver ali na floresta. Era um homem inteligente e com boa visão de batalha, todas as vezes que ele havia operado aquele drome em um treinamento, pelo menos um recruta era abatido. Naquela manhã porém, ele não tinha atingido ninguém. Foram Billy e Joseph quem encontraram o veterano, enquanto o drome era mirado para a subida da encosta, atrás do trio que havia continuado a subida pela parte mais centralizada, Billy guiou Joseph e, um pouco mais atrás, Gus, até o local de onde partiam os tiros, era uma pequena trincheira montada atrás de duas grandes pedras que se encontravam no topo da encosta. Os recrutas tiveram que contornar a trincheira, passando a uma certa distancia e bem abaixados para não serem vistos até encontrarem o caminho que levava até a entrada do pequeno esconderijo. Gus alcançou os dois amigos e, antes que eles pudessem invadir a trincheira, ele tomou a frente.

- Renda-se soldado!

O rifle de Gus mirava diretamente no peito do veterano que, assim que notou que havia sido pego, ergueu as mãos e declarou sua rendição.

rendicao
Renda-se soldado!


- Muito bem garotos, vocês me renderam. Venham, a base que vocês buscam está a apenas umas três horas daqui. Chegaremos para o almoço.

Gus reuniu todo o seu pelotão. O Sgto. White chegou logo em seguida, cumprimentou Gus e o veterano e guiou o restante da marcha por entre a floresta.

- Billy! Vem até aqui, ande ao meu lado.
- Diga Gus, o que você quer?
- Quero respeito recruta! Apesar de sermos amigos, sou seu monitor!
- Desculpe, senhor!
- Ótimo, assim está melhor. Mas não é só sobre isso que eu dizia, por que você me deu ordens lá na encosta?
- Te dei ordens?
- Sim! Mandou que eu ficasse na retaguarda. Sou EU quem digo essas palavras, sou EU quem manda VOCÊS ficarem na retaguarda ou na frente ou na merda de lugar que eu quiser!

Billy estava estupefato com a implicância do amigo. Mais que isso, estava irritado com a reclamação. Gus estava deslumbrado com o fato de ser monitor.

- Foi pelo bem da missão, eu poderia ter ficado na retaguarda enquanto você liderava, mas não ia adiantar nada porque você não sabia onde estava o drome! … senhor.

Dito isso, parou no meio da marcha enquanto o restante do pelotão passava por ele, assim que Joseph o alcançou Billy continuou a andar.

- Gus está deslumbrado. Ele quis encrencar comigo porque mandei ele ficar na retaguarda.
- Serio?
- Serio! Ele estava apavorado porra! Não faz sentido a implicancia!
- Também acho.
- Que merda cara!
- Ele precisa de uma mulher, urgente Billy.
- Mulher? Ele não sabe nem se ele tem um pinto. A única vez que beijou uma menina foi uma vizinha feia que roubou um beijo dele enquanto a gente jogava futebol.
- Haha, que triste! A gente arruma uma mulher pra ele então.
- Mas e você cara? Já pegou muita mulher?
- Eu? Uma só, morava umas duas casas da minha.
- Era bonita?
- Demais, tinha uns peitões e tal.
- Sério? Quantos anos?
- 26.
- Ela era mais velha que você??
- E mais experiente também meu caro.

Joseph deu uma piscada para Billy que estava biquiaberto.

- E por que merda ela estava com você?
- Era viúva. Morava com o marido naquela mesma casa, mas dai ele teve uma doença grave e morreu. Assim, do nada. Ela ficou de luto por uns dois meses, sem sair de casa nem nada. Dai eu estava passado na frente da casa dela um dia e a janela da sala tava aberta. Era de manhãzinha, ela tinha acabado de acordar, com uma camisola de seda que marcava todo o corpo dela, tava sem nada por baixo. Dai eu parei e fiquei olhando, com cara de bobo.
- Eu teria feito o mesmo.
- Eu sei que sim. Haha. Mas então, dai ela me viu e antes que eu pudesse correr ela me chamou para tomar café com ela. Eu tava meio que hipnotisado, dai aceitei e entrei.
- E ela tirou a roupa e te agarrou?

camisola_seda
Estava só de camisola, tinha acabado de acordar.


- Não, claro que não. Não de cara pelo menos, tomamos café antes. Ela me contou toda a história do marido dela, de como ela tava triste e sozinha. Dai ela chegou mais perto e pegou na minha mão e continuou falando. Hora que eu vi eu tava com meu pinto dentro dela.
- Fácil assim?
- Uhum. Dai continuamos meio que juntos, ia na casa dela quase todo dia e tal.
- E o que aconteceu com ela?
- Com ela? Nada.
- Com você então?

Joseph fechou a cara de repente. Billy sentiu que tinha entrado em assuntos sensíveis ao amigo, igual no dia da apresentação do exército.

- Não quero falar disso.

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