19 de jul. de 2011

Dez

Escrito por Fabricio Cantarella
Billy não conseguia compreender qual o problema do amigo. Joseph era um cara tranquilo na maior parte do tempo, se dava bem com Billy e até com Gus, nos momentos em que este não estava exercendo suas importantes tarefas e monitor. Porém, alguns assuntos faziam o recruta Kuerbo ficar arisco e sentar-se sozinho por horas a fio. Depois da conversa que tivera com Billy, Joseph ficou nos aparelhos de exercícios da base em que haviam chegado por umas duas horas, as vezes apenas sentado, as vezes fazendo barra ou flexões de braço. Via que Billy o observava, mas fingia não perceber e não dava brechas para o amigo vir conversar, não queria que perguntassem sobre aqueles assuntos.

O pelotão 8 estava numa base localizada no mesmo paralelo que o front de batalha, porém alguns quilômetros a leste. Era ainda dentro da floresta, porém, as montanhas já demarcavam seus limítes uns 10 km ao redor da base, como se fosse uma baía, só que ao invés de mar, haviam árvores. Daquela posição ja era possível ouvir os sons da batalha que acontecia no front a leste. Bombardeios, tiros e as vezes até gritos. A guerra seguia num ritmo morno naqueles dias, sem ninguém avançar nenhum centímetro sequer em semanas, poucos soldados restavam no front, os números girava em torno de 200 ou 300 para cada lado. Os políticos ja haviam sentado para discutir uma trégua algumas vezes, mas nenhum acordo foi firmado, por isso as batalhas continuavam dia após dia. O exército norte-americano programava uma ofensiva maciça, por isso treinava novos soldados com o máximo de velocidade possível. O pelotão 8 foi informado disso naquela tarde, após o almoço, quando foram chamados pelo Sgto. White para o briefing da próxima missão.

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A guerra não andava la muito agitada naqueles dias.


- Atenção recrutas! Antes de passar o briefing da próxima missão de treinamento, tenho um comunicado a fazer. Vocês ja sabem que, completando as próximas missões vocês serão promovidos a soldados e integrarão as fileiras do nosso exército na ofensiva que está sendo planejada. Em breve vocês lutarão na guerra.

Uma comoção contida surgiu na fileira de recrutas, alguns estavam ansiosos, outros nem tanto. O sargento continuou.

- Porém garotos, ainda faltam três missões, todas saindo dessa base e a primeira vai ser amanhã. Por hoje vocês terão uma série física durante duas horas e o restante da tarde será livre para se prepararem. Como de costume, o briefing está em detalhes no mapa e será explicado por Gus.
- Sim senhor!
- E uma útlima coisa, estarei fora hoje, retornarei amanhã para liderar a missão. Dispensados.
- Obrigado senhor!

Todos se dirigiram à tenda-refeitório onde Gus explicou a missão do dia seguinte, era simples, consistia em resgatar um boneco que estava preso no meio da floresta em meio à armadilhas que simulavam ataques inimigos. Todos fizeram as anotações necessárias em seus mapas e foram guardar suas coisas antes de iniciarem o treino físico. Joseph se aproximou de Billy e Gus que conversavam em frente ao mapa.

- Tenho uma surpresa para vocês amigos. Identifiquei uma trilha que sai daqui e vai até um bordel, assim que terminarmos o treino físico e o sargento sair nós podemos ir buscar umas garotas, que tal?

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Surpresa caros amigos!


Gus olhou torto para Joseph.

- Porque acha que tem permissão para isso recruta Kuerbo?
- Não tenho permissão, por isso estou perguntando sua opinião. Vamos lá cara, vai ser legal. Eu pago a sua.
- Vou pensar no assunto, recruta.
- Ok! E você Billy? O que acha?
- Dessa vez eu passo cara, quero explorar uma trilha que achei aqui no mapa, a oeste.
- Trilha Billy? Que coisa mais gay!
- Trás uma pra mim, prometo que volto a tempo.
- Haha, ok!
- Ótimo rapazes, agora vamos treinar.
- Sim senhor.

Gus reuniu todos os recrutas em uma fileira e passou uma série de exercícios físicos, um mais pesado que o outro e uma corrida forte no final. No meio da corrida, Gus falou para Joseph.

- Ainda vai aguentar uma mulher?
- Eu vou, e você monitor?
- Não me teste rapaz.

Gus fez todos apertarem mais ainda o passo depois desse pequeno diálogo. Ao final todos estavam exaustos, mas Joseph não desistia de sua idéia, ele queria tirar a virgindade de Gus.

- Vem Billy, me ajuda aqui!
- Não cara, to saindo agora, prometo que volto a tempo pra aproveitar minha parte.
- Mas você vai perder o Gus com uma mulher?
- Ele não vai fazer nada até eu voltar, aposta quanto?
- Ele ta com medo né?
- Se borrando hahaha!

Billy empacotou sua mochila e saiu em direção ao oeste. A trilha que ele queria explorar seguia floresta adentro em direção às montanhas. Era um caminho antigo, não usado havia muito tempo, desde antes do início da guerra, pelo menos uns 15 anos Billy deduziu, visto que os mapas americanos da porção sul de Eyja tinham pelo menos uns 10 anos e as marcas que ele encontrava por onde passava parecia ter mais que uma década de vida. Billy seguiu abrindo passagem através das folhagens, tomando o cuidado para não expor muito a trilha, não queria ser seguido. Por algum motivo, a notícia de que em breve estaria lutando na guerra deixou Billy um tanto abalado, a iminência de uma batalha que poderia resultar em sua morte o havia perturbado, um tento deprimido. Pelo mapa, a trilha em que seguia terminava no pé da montanha que delimitava a costa oeste da ilha, Billy tinha a esperança de poder escalar um pouco, talvez uns metros acima das árvores, apenas para observar a floresta de cima, refletir os dias que havia passado embrenhado naquele ambiente escuro e úmido, vendo pouco do sol nos últimos dias. Imaginava se a sensação de morrer seria algo parecido. Seguiu o caminho por uma hora até que seu mapa indicou o fim da trilha. Que na verdade não era o fim da trilha.

O mapa indicava que ele estava no pontinho assinalado ao pé da montanha, onde de fato ele estava, mas o que ele via não era um pontinho, era a continuação do traço que tinha seguido até então, a trilha continuava através da montanha, numa espécie de cânion que penetrava na formação rochosa e terminava numa área clara que não condizia com a baixa luminosidade que tinha enfrentado até aquele momento. Com a mão enfrente aos olhos o recruta caminhou pelo terreno rochoso que o guiava por dentro do cânion, desviando de pedras que obstruiam partes do caminho até que seus pés, de repente, afundaram em um terreno fofo. Billy ergueu os olhos para a praia mais linda que ele havia visto em seu tempo de vida. E contemplou.

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Bem ao norte, mais uma sessão de treinamento havia chegado ao fim. Não havia um que conseguia erguer direito o braço para lavar o suor que pingava dos cabelos. Estavam todos exaustos.

De volta ao dormitório, enquanto todos apenas desabavam nas camas, um dos recrutas rapidamente empacotou algumas coisas e saiu. “Preciso descansar, vou ao meu lugar.”, escreveu enquanto percorria os corredores do prédio, não a passos tão rápidos quanto queria, devido ao cansaço que sentia, mas fazendo o máximo que conseguia. Escapuliu por um portão lateral do quartel e seguiu seu caminho rumo ao sudoeste, adentrando o caminho que havia criado e que ninguém mais sabia. Dali em diante seria mais fácil, havia decorado como caminhar por aquelas trilhas criadas por entre árvores e pedras. Encontrava suas marcas com naturalidade, como se estivesse seguindo o caminho para casa. Era assim que se sentia.

Quinze minutos de caminhada floresta adentro e seu ‘lar’ estava à sua frente, toda a calmaria e calor que só um verdadeiro lar pode oferecer. Pode, mas não naquele dia. Ao chegar no fim da trilha e olhar para a praia, normalmente vazia, à sua frente, uma figura humana chamou a atenção. “Alguém invadiu meu lar!”.

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Alguém invadiu meu lar!


Desembainhou a adaga que trazia na cintura. A inscrição flëte brilhou na areia à sua frente. “Só preciso de um momento oportuno.”

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