26 de jul. de 2011

Onze

Escrito por Fabricio Cantarella
Billy estava deslumbrado com a beleza da praia. Não conseguia acreditar que, no meio de uma ilha tomada pela guerra podia haver um lugar tão calmo, pacífico como aquele. Caminhou até a metade da praia, calmamente, sabia que não teria muito tempo para aproveitar aquela paz, mas não ia deixar que nada estragasse aquele momento. Quando chegou no meio da praia, sentou-se na areia, de frente para o mar. Gaivotas voavam em círculos, ora mergulhando no mar, ora apenas piando umas para as outras, as ondas quebravam tranquilamente na praia, o som do mar era um calmante natural, naquele lugar, os sons da guerra eram totalmente abafados. Parecia um local inperturbável. Billy fechou os olhos e inspirou o cheiro salgado da maresia. Resolveu deitar-se uns minutos sob o sol, de olhos fechados, em paz. Ficou assim por uns dois ou três minutos. Acordou com um reflexo forte e a sensação de uma adaga em seu pescoço.

- Quem é você e o que faz aqui?

Ajoelhada sobre Billy estava uma garota loira, olhos claros penetrando diretamente os dele, com uma fúria silenciosa. Ele conseguia perceber que ela era alta também, mais ou menos da mesma altura que ele, magra e bem branca. A expressão era de alguém que havia sofrido nos últimos anos, alguém cuja infância e adolescência foram suprimidas por uma maturidade forçada. Ela não devia ter mais que 18 anos, mas o diário, visível em um dos bolso de suas vestes denunciava a transição antecipada da adolescência para a maturidade. E o mais importante, ela era bonita, muito bonita aos olhos de Billy.

- Eu perguntei quem é você e o que faz aqui?

Seu tom de voz era forte, furioso, embora a voz em si fosse aguda e um tanto macia.

loira_olhar_penetrante


Quem é você e o que faz aqui?


- Meu nome é Billy, encontrei essa praia por acaso. E quem é você?
- Não importa. Esse é o meu lugar secreto! Só eu posso ficar aqui! Achei primeiro!
- Você vem aqui todo dia? E como chega aqui?
- Através da floresta e venho quando eu quero, mas agora, vai embora!
- Ok, mas só se você sair de cima de mim primeiro.

Billy sorriu para a garota enquanto ela se levantava, ainda com a adaga empunhada e pronta para atacar.

- Antes de ir, qual o seu nome?
- Não importa, vá!

Billy saiu caminhando, olhando para trás vez ou outra para encontrar a garota ainda olhando para ele com a adaga nas mãos. Enquanto seguia a trilha de volta para o acampamento, Billy não conseguia parar de pensar naquela garota, em seus olhos claros, olhando intensamente para ele, num misto de vontade de matá-lo e alguma outra coisa mais. Na volta, ele teve o cuidado de esconder ainda mais a trilha, não queria que ninguém mais encontrasse aquela praia, ou a garota talvez. De volta ao acampamento, Joseph havia acabado de chegar com suas ‘amigas’.

- Bem na hora hein Billy?
- Eu disse que voltaria!
- Grande garoto.

E voltando-se para uma ruiva que estava em seu grupo, Joseph disse:

- Ei! Anna! O Billy quer te conhecer.

Era uma garota ruiva, branquinha e de olhos verdes. Pequena e bastante delicada, mas com um sorriso depravado no rosto, típico de alguém que se acostumara com a vida que levava e até gostava dela. Billy levou-a para o dormitório e fez o que deveria fazer, descobrindo que Anna, apesar de pequena, era extremamente feroz na cama.

ruiva_seda_janela


Delicada? Não na cama.


Porém, enquanto comia a pequena ruiva, não conseguia parar de pensar nos olhos azuis da garota da praia. E uma questão surgiu em sua mente, como ela chegava la naquela praia, existia alguma outra trilha até la?

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Ainda na praia, sentada na areia, ela olhava o mar e tentava acalmar seus nervos. Alguém havia invadido seu local mais secreto e isso não era nem um pouco legal. Ela se sentia, de certa forma, descoberta, como se estivesse exposta ao mundo. O que será que aquele cara ia fazer? Será que iria contar a outras pessoas o caminho para a praia? E ele era americano, será que tinha percebido que ela pertencia ao outro lado da fronteira, à parte norte da ilha? Ele poderia querer matá-la. A idéia de não voltar mais à praia por um tempo passou por sua mente, mas tão rápida quanto veio, ela se foi. Seria impossível aguentar todo o sofrimento daquele quartel sombrio e não ter aquela faixa de areia branca para sugar todas as preocupações, para evitar que seu coração endurecesse como o comando do exército inglês queria. Ela decidiu que voltaria todos os dias para a praia, não iria deixar que aquele tal de Billy a intimidasse.

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Faltavam ainda alguns dias de treinamento para o pelotão 8, eram dias em que eles continuariam naquela mesma base, a alguns quilômetros da praia, porém, não ficariam mais sozinhos, provavelmente nem de folga. Billy de repente se viu inquieto com a idéia de não poder sair, de não poder seguir a trilha até a praia. E os olhos azuis daquela garota não saiam de sua mente. Ele decidiu que precisava pelo menos encontrá-la de novo, saber seu nome. No dia seguinte a missão começaria cedo, antes do nascer do sol e sem previsão para terminar, segundo o briefing, eles passariam perto da trilha que dava na praia, ele poderia escapar no meio da missão se a coisa ficasse feia com as armadilhas. Era isso o que ele faria.

Às cinco da manhã o Sgto. White entrou no dormitório:

- Acordem recrutas! Quero todos prontos em cinco minutos!

Todos levantaram apressados, colocaram as fardas, arrumaram as mochilas e alinharam-se em frente ao dormitório. O Sgto. White continuou:

- Muito bem, sairemos em marcha agora, o perímetro todo está cheio de armadilhas e o objetivo é render uma base de observação no meio da floresta, a oeste daqui. Sigam-me!
- Sim senhor!

Eles sairam da base e caminharam pela floresta, o caminho era difícil, bastante irregular, o que transformava a marcha em uma caminhada meio desajeitada no meio das árvores. Em vinte minutos de caminhada algumas armadilhas começaram a disparar, soldados armados com rifles de precisão atiravam diretamente na fileira de recrutas que teve que se jogar no meio da vegetação mais densa. Era a oportunidade que Billy esperar, porém, no momento errado, eles estavam à pelo menos mais dez minutos de caminhada da trilha que levava à praia, ele teria que lutar. Da posição em que estavam, alguns dos recrutas conseguiam devolver os tiros, com muito menos precisão devido às armas que portavam, porém, em uma das rajadas, um dos recrutas conseguiu eliminar o atirador mais próximo, o segundo, e último, estava alguns metros para frente, o que dava margem para Gus organizar novamente o pelotão e atacar devidamente. Em uma manobra rápida, o pelotão conseguiu se dividir e cercar o atirador restante sem que ninguém recebe um tiro de munição de paintball. Continuaram então a caminhar em direção à base, em direção à trilha que levava à praia e isso era tudo o que estava na mente de Billy. Ele caminhava quase que rezando para encontrar inimigos ou armadilhas mais pra frente. E suas orações foram atendidas. Mais três atiradores começaram a disparar e novamente os recrutas foram forçados a pular para o meio da vegetação mais fechada, Billy, assim que caiu em meio aos arbustos, levantou-se e disparou em direção à trilha. Em poucos minutos estava na praia, o sol estava se levantando e, bem no meio da praia, naquele exato local, os cabelos loiros eram visíveis espalhados pela areia, ela havia dormido lá.

nascer_do_sol_praia_mar


O sol nascia enquanto ela dormia, espalhada pela areia.


“Será que à minha espera?”, pensou Billy com o coração na boca.

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