17 de mai. de 2011

Quatro

Escrito por Fabricio Cantarella

Os dois amigos pegaram as bicicletas e saíram, andando calmamente, empurrando-as, ao invés da corrida desenfreada que tinham executado para chegar a tempo no comando do Exército Americano na ilha de Eyja. Estavam calmos agora, para Billy, tudo tinha corrido tranquilamente, para Gus, melhor impossível. O garoto, que tanto sonhava em entrar para as Forças Armadas e triunfar, havia começado bem, tinha sido convocado para a seleção de monitores de recruta. Logo de cara já seria uma espécie de comandante, era tudo o que Gus podia querer. Foram caminhando pelas ruas mais calmas da parte sul de Eyja, já passava da metade da manhã, porém, ainda faltava algum tempo para iniciar a balburdia que era o rush da hora do almoço, o dia estava claro e estranhamente calmo, visto que nenhum ataque aéreo tinha sido lançado pela parte britânica da ilha, após alguns minutos de caminhada os dois sentaram em um bar para comemorar os resultados positivos daquela manhã. Sentaram-se em dois bancos junto ao balcão e Billy se dirigiu ao balconista:

- Vê duas Coca-Cola geladas, por favor.

Ao que o balconista lhes entregou as garrafas do refrigerante, o garoto completou:

- Eu pago essa Gus, em sua homenagem. E ainda ofereço um brinde.

Os dois levantaram as garrafas.

- Ao mais novo monitor de recrutas do exército americano em Eyja.
- Haha só fui convocado para a seleção Billy.
- Nem ligo. E você vai ser chamado de qualquer jeito.

Os dois sorriram e bateram as garrafas uma na outra.

Coca_Cola_balcao

Vê duas Coca-Cola geladas, por favor.


- Mas me diz Billy, e você, como está? Não queria ter sido chamado para monitor também?
- Ah cara, estou bem sem essa.
- Você parece meio desanimado com a idéia de entrar pro Exército...
- Não, nada a ver. Bom, confesso que não tenho mais a vontade que tinha quando éramos pequenos, mas ainda quero fazer parte.
- Não quer mais ser herói?
- Prefiro salvar vidas, imagina quanta gente já não morreu desde que nascemos...
- Bom, se forem da parte norte da ilha não tem problema.
- São pessoas como nós.
- Mas são nossos inimigos!
- Por questões políticas apenas...
- Foda-se, quero matar britânicos, quero vencer esta guerra. Nada mais me importa, vou ser herói.
- Bom, se você quer assim, boa sorte.

Gus lançou um olhar venenoso para Billy, inquisidor.

- E você vai fazer a mesma coisa se eu for seu monitor.

Billy deu de ombros. Entendia a vontade de seu amigo, já estava acostumado a ouvi-la, visto que desde pequeno Gus a repetia, mas alguma coisa na frieza daquelas palavras havia entristecido Billy. Não parecia certo querer apenas matar, mesmo que fossem soldados inimigos, ainda eram soldados como ele seria em breve. Um olhar triste estampava o rosto de Billy, Gus apenas bebia sua Coca, como se não houvesse problema algum em seu mundo, um silêncio se abateu entre os dois amigos, uma distância cresceu de repente entre os dois bancos próximos.

- Mais uma Coca?

O balconista estava na frente dos dois, com as duas garrafas já vazias na mão. Billy despertou de seus pensamentos, nem tinha visto que seu refrigerante tinha terminado, muito menos que o balconista tinha pego a garrafa vazia, Gus apenas voltou de uma viagem ao seu mundo imaginário onde ela já era herói de guerra e todos o idolatravam. Os dois responderam em uníssono:

- Não, obrigado.

Entreolharam-se, sorriram. Eram amigos afinal.

- Já está quase na hora do almoço, o que vai ter de bom lá na sua casa Gus?
- Sei lá cara, quer comer lá?
- Até topo hein?
- Ta afim de uma corrida?
- Ah, maldade contigo, vou ganhar de novo.
- Nem a pau.

Dizendo isso os dois subiram nas bicicletas que estavam paradas na frente do bar, Gus deu um empurrão em Billy desequilibrou e quase caiu, e exclamou:

- Você jamais me vencerá Billy Gannet!
- Trapaça isso, porra!

Os dois garotos saíram zunindo por entre os carros e as pessoas que passavam pela rua.

---

Em algum lugar ao norte. Um homem anda a passos rápidos por um corredor. Ele trás uma boa notícia e sorri por isso. Está confiante.

- Eles já estão todos em treinamentos senhor!
- Ótimo, em quanto tempo ficarão prontos?
- Em um mês senhor.
- Bom. Ficarão prontos no momento certo. Algo mais?
- Não senhor.
- Está dispensado então.
- Obrigado senhor.

Tom_Cruise_confiante

Ficarão prontos no momento certo.



Ele sai andando pelo corredor, calmo agora, mais confiante ainda. Caminha de volta ao pátio onde duas fileiras de dez o aguardam em posição de sentido. “Um pouco desajeitados ainda”, ele pensa, “mas vão melhorar. Ficarão perfeitos.”. Ele sorri de novo com a perspectiva.

- Muito bem, acredito que já tenham sido iniciados no treinamento?
- Sim senhor. – eles respondem em uníssono.
- Ótimo. Daqui pra frente eu serei o responsável por lhes ensinar tudo o que precisam saber para poder entrar em batalha. Amanhã começaremos cedo e não vou toleras atrasos nem falhas. Estão dispensados.
- Sim senhor.

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