3 de mai. de 2011

Dois

Escrito por Fabricio Cantarella

- Alô? Billy? Já acordou? É hoje cara!
- Hã... hoje o que?
- A apresentação no exército!
- Porra! É mesmo! To pronto, só me dá vinte minutos.
- Ta, daqui dez minutos to saindo.
- Viado!

Enfim tinha chegado o dia de se apresentarem ao comando do exército, algumas semanas depois de completarem a maioridade. Em Eyja, a carreira militar era obrigatória, todas as outras funções da sociedade era designada às mulheres ou aos rejeitados pelo exército, ou seja, ser bem sucedido na guerra era certeza de glória na sociedade da Planície Americana. Gus estava mais do que animado, ser famoso, imponente e respeitado por todos era seu maior desejo. Ele havia se preparado e ansiado pelo dia da apresentação, queria entrar para as fileiras do exército, ser o melhor em seu regimento, viver a glória de ser um herói de guerra.

- BILLY!
- Mas ja? Porra, achei que ele tivesse falado dez minutos, não dois.
- VAMOS! TA NA HORA!
- Para de gritar, to pronto. Só terminar de escovar meus dentes.
- Ta. Mas anda logo!

O comando do exército ficava situado bem no centro da planície e toda a sociedade de desenvolvia ao redor dele. A planície, apesar de grande, não possuia divisões de cidades ou estados, era apenas uma grande sociedade, do tamanho de uma metrópole. Billy e Gus moravam em uma das partes residenciais no oeste da ilha, a meio diâmetro do comando militar, uma distância de uns consideráveis 10 km, em um dia racional, eles teriam esperado por um ônibus, no entanto, quando saiu para fora da casa, Billy encontrou um Gus agitado, já montado em sua bicicleta.

- Sério que você ta pensando em ir de bicicleta?
- Claro! Vamos chegar mais rápidos assim, anda logo.
- Você é louco...

Eles sairam pedalando em direção ao centro da Planície. Era uma segunda-feira, logo pela manhã, hora do rush no trânsito, enquanto todos seguiam pacatamente rumo a seus empregos, com a bicicleta Billy e Gus cortavam carros e praças em um ritmo acelerado. Gus ia na frente, com a adrenalina correndo à flor da pele, era o dia com o qual ele mais esperava desde que fizera 18 anos umas semanas antes. Ele queria causar uma boa impressão no sargento responsável pela seleção, queria ser exemplar desde agora. Ele queria o exército e Billy apenas o seguia, também sonhava com os combates, mas queria apenas a liberdade de poder jogar bola nas tardes de domingo sem se preocupar com alguma bomba caindo em suas mãos ao invés do lançamento executado por seu amigo, queria um futuro melhor, pacífico.

Comando do exército


Quando finalmente alcançaram o comando do exército, meia hora depois e molhados de suor, encontraram uma multidão de mais ou menos duzentos ou trezentos jovens reunida, todos tinham a mesma idade, 18 anos, e estavam lá para cumprir com sua obrigação. Alguns apenas cumpriam a formalidade de se apresentarem, uma vez que não cabiam nos requisitos para ser soldado, uns eram gordos demais, outros tinham alguma deficiência, outros ainda eram apenas rapazes, por algum motivo desconhecido, quase subnutridos. O primeiro dia da seleção era a apresentação de cada um e os exames médicos, o sargento responsável fez as honras da casa:

- Bom dia senhores. Meu nome é Sgto. White e sou o responsável pela seleção de cadetes do exército americano em Eyja. Hoje os senhores se apresentarão formalmente a mim e passarão pelos exames médicos que vai separar os aptos dos não-aptos. Alguma dúvida?

O Sgto. White era um homem de feições duras, cabelos crisalhos cortados no estilo militar, corpo forte e marcado por algumas cicatrizes, usava uma camiseta regata, calças camo e cuturno, um típico sargento do exército norte-americano, mais ou menos como o Guile do Street Fighter, talvez esse fosse até um dos heróis do sargento.
Após terminar de falar, os pretendentes a cadete foram chamados, um a um, para a sala de onde Sgto. White havia retornado. Billy, pela ordem alfabética, era um dos primeiros, ele e Gus estavam sentados em uma parte mais afastada da arquibancada, um dos únicos lugares que eles encontraram vagos quando chegaram.

- Me conta depois como foi la dentro cara?
- Conto Gus, relaxa.
- Beleza. Ta nervoso?
- Ah, nem. To é com medo desse tal Sgto. White, cara estranho.
- Medo? Medo não é coisa pra se ter no exército Billy!
- Calma cara, eu sei, foi jeito de falar.
- Ah, ta. Bom mesmo. To empolgado cara.
- Haha, to vendo. Relaxa, vamos entrar.

- BILLY LEONARD GANNETT!

- Vai lá cara! Boa sorte!
- Calma Gus, é só a apresentação, assinar o papel que eu to aqui.
- Tá, tá, vai lá.

Billy foi andando em direção à sala do sargento, teve que atravessar toda a extensão da arquibancada para poder chegar até seu destino, pelo caminho, a agitação era evidente, pelo visto, não era apenas Gus que estava ansioso para ingressar nas fileiras do exército. Quando entrou na sala, um cômodo pequeno, com um escrivaninha de frente para a porta, um ventilador de teto e o Sgto. White sentado atrás da mesa fuzilando com o olhar qualquer um que entrasse pela porta, naquele caso, Billy.

- Apresente-se recruta.
- Meu nome é Billy Leonard Gannett.
- Senhor!
- Senhor.
- Trouxe seus documentos recruta?
- Sim senhor.
- Certo, dá aqui, deixa eu ver!

O Sgto. White era mais assustador de perto pensou Billy no momento em que entregou os documentos. Agora sim ele sentia medo.

- Certo recruta, assine aqui e pode ir pro exame médico. Sala ao lado. Dispensado.
- Obrigado senhor.

Billy saiu da pequena sala suando mais do que quando chegou, Gus olhava lá de longe, esperando para ouvir como tinha sido la dentro, mas Billy apenas deu de ombros e apontou em direção à sala do exame médico. A sala em questão, ficava uns quinze passos de distância, que foram percorridos com uma certa cautela. Billy tinha ouvido que teria que ficar pelado com outros jovens para passar pelos exames e não era muito confortável com a idéia. Quando entrou, assustou com o contraste, enquanto a sala do Sgto. White era minúscula, a sala de exames era grande, inteira branca e bem iluminada, três soldados e mais uns quinze outros recrutas estavam lá dentro. Dois dos soldados estavam sentados atrás de uma mesa em um canto, o outro, vestido de jaleco e luvas, estava de frente para os recrutas, que formavam uma linha lado-a-lado em frente a parede oposta aos três soldados.

- Ótimo, já posso começar o exame. Fica ao lado dele ali, por favor.

O médico era uma homem de uns 50 ou 60 anos, rosto e modos razoáveis, um tanto gordo, talvez por isso fosse médico. Ele continuou, assim que Billy se alinhou com a fileira de recrutas.

- Tirem a roupa, por favor e coloquem no chão, atrás de vocês. Podem ficar com a cueca.

Podem ficar com a cueca.


Era isso mesmo, eles teriam que tirar a roupa. Billy começou a ficar nervoso. O médico, assim que todos ficaram apenas de cuecas, começou a inspecionar os recrutas, um por um. Olhos, orelhas, braços, pernas, nada passava aos olhos críticos dele. A cada recruta examinado, ele ia até a mesa e falava em voz baixa com os soldados sentados, que por sua vez, tomavam notas de tudo em pranchetas. Ao término da fileira, ele falou em voz alta:

- Ao meu sinal vocês abaixam a cueca até a altura dos joelhos e assopram as costas da mão direita, com força. Alguma dúvida?

Não era exclusivo de Billy o nervosismo, os recrutas olhavam fixamente para a frente, sem mover sequer um músculo.

- Agora.

Todos abaixaram a cueca. Uma risada surgiu, cada vez mais alta e mais volumosa. Billy não resistiu e olhou em direção as risadas, um dos recrutas do começo da fileira estava rijo, o rosto inteiro vermelho e o pênis ereto. Billy riu baixo, mas sentiu pena do rapaz. O médico interviu:

- Tá, tá, chega todos vocês! Assomprem as mãos ae que tem mais muita gente pra eu examinar hoje.

Os recrutas aos poucos se acalmaram e assopraram as costas das mãos. O médico deu um sinal para os soldados sentados e falou aos recrutas:

- Tudo certo, coloquem a roupa. O soldado Johnson vai levar vocês pros outros exames.

Todos se vestiram numa velocidade impressionante, as risadas voltaram assim que eles sairam da sala, o recruta que tinha ficado ereto estava mais vermelho ainda, os olhos querendo se encher de lágrimas. O soldado Johnson pediu silêncio a todos e conversou duas ou três palavras com o recruta para acalmá-lo.

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