25 de mai. de 2011

Cinco

Escrito por Fabricio Cantarella
No dia seguinte Billy acorda cedo novamente. É o segundo dia da seleção do exército e ele está mais animado hoje, quer ser escolhido e iniciar nos treinamentos logo. A conversa com Gus, no dia anterior, ainda o incomoda, a frieza do amigo, mas ao mesmo tempo despertou nele a vontade de ingressar nas Forças Armadas e tentar, de alguma forma, trazer a paz à Eyja. Pega a bicicleta surrada da queda provocada por Gus na corrida de volta para casa do dia anterior e se dirige, sozinho dessa vez, até o Comando do exército norte-americano. O dia está ameno, com previsão de dia quente, mas por ainda ser cedo a temperatura está agradável e Billy vai guiando devagar sua bicicleta, ao contrário de todos os outros dias de sua vida, dessa vez ele está adiantado, saiu cedo de casa, está ansioso. Observa as pessoas, os carros, as crianças indo à escola, lojas abrindo, todos tranqüilos, em paz mesmo diante da ameaça diária de um bombardeio, todos em Eyja já estão calejados pela guerra, perceberam que não vale a pena se esconder o tempo todo à espera do próximo ataque inimigo, todos ali tem vontade de viver, com guerra ou sem.

O Comando do exército está menos cheio dessa vez, uns cento e dez recrutas apenas estão lá, sentados nas mesmas arquibancadas da vez anterior, mas o olhar de cada um é diferente do que apresentavam na seleção anterior, todos tem uma certa decisão no olhar agora. Billy senta-se ao lado de um rapaz, na ponta mais distante da arquibancada.

- E ae.
- Beleza?
- Tranquilo e você? Parece meio preocupado...
- Nada cara, to ansioso só.
- Quer ir pra guerra?
- Quero acabar com essa porra logo na verdade.

O rapaz abaixa a cabeça, parece um pouco abatido.

- Aconteceu alguma coisa cara?
- Não é nada.
- Hm, ok. Me chamo Billy, e você?
- Joseph, futuro recruta Kuerbo.
- Muito prazer!

Os dois batem uma continência desajeitada e sorriem.

- O que será que teremos pela frente hoje?
- Sei lá cara, mas creio que vamos descobrir agora.

O Sgto. White caminha em direção às arquibancadas, em sua mão uma prancheta. Para em frente aos recrutas e diz enquanto outros soldados chegam carregando carrinhos de mão com montes de feno e fuzis.

- Atenção recrutas! Em linha, agora!

Todos se levantam e se alinham, lado a lado, em frente ao sargento.

- Devido a situações no front e aos resultados da seleção anterior, vocês iniciarão seus treinamentos amanhã pela manhã. Hoje será o teste final para saber quais de vocês ficarão e quais irão fazer alguma outra merda da vida. Farei uma chamada agora, cada grupo de dez recrutas se dirigirá até o soldado Oxford para o teste de tiro.

Todos se olham surpresos, ninguém ali havia manejado nenhuma arma além de um estilingue na vida, quanto mais um fuzil. O Sgto. White iniciou a chamada e, alfabeticamente, cada um dos recrutas foi em direção aos montes de feno, uns nervosos, outros confiantes. Billy foi chamado logo no terceiro grupo, estava acima de tudo curioso, sempre teve vontade de saber como seria atirar com um fuzil. Pelo que havia visto nos dois grupos anteriores, apenas os que não tinham habilidade sequer para segurar a arma ou dar um tiro próximo ao alvo eram mandados para casa, por isso ele estava tranqüilo. Tranqüilidade que desapareceu quando ele pegou o rifle nas mãos, era diferente de qualquer coisa que ele pudesse imaginar. O soldado Oxford entregou a ele um M16, fuzil de assalto padrão do exército americano, quatro kilogramas de pura capacidade de destruição, Billy começou a tremer um pouco, não fazia idéia de como usar aquela arma. Oxford deu a ordem:

- Atenção recrutas, o rifle já está carregado, basta que vocês tirem a trava de segurança, mirem e atirem no alvo.


É assim que faz, olhe bem.


Billy ficou mais nervoso ainda, “onde raios é essa merda dessa trava de segurança?!”. Olhou para a arma em suas mãos, pouco acima do gatilho, uma pequena alavanca estava abaixada e uma inscrição logo ao lado dizia LOCK. Billy levantou a alavanca, a arma deu um pequeno estalo e o gatilho tornou-se mais macio, de ambos os lados da fileira já podia ouvir as pequenas rajadas de três tiros características dos M16; a direita de Billy, um rapaz magricela, com o rosto coberto de espinhas, nervoso que até as pernas tremiam disparou a carga toda da arma de uma vez só, acertando tudo, menos o alvo. Quando a arma parou de cuspir balas o recruta largou a arma no chão e saiu correndo em direção ao portão enquanto os soldados riam, Billy voltou sua atenção ao seu próprio rifle, era um dos poucos que ainda não tinha disparado, levantou a arma à altura dos olhos, encaixou, desajeitado, o apoio no ombro direito, olhou pela mira e pressionou o gatilho, a arma deu um coice e empurrou seu ombro com tudo para trás, uma dor forte percorreu toda a extensão do braço direito, as balas disparadas perfuraram o feno pouco acima do alvo pregado no monte, um bom tiro pra quem nunca havia usado uma arma de fogo antes. Billy ficou satisfeito consigo mesmo, devolveu a arma ao soldado Oxford e voltou à linha em frente ao Sgto. White. Joseph foi chamado uns três ou quatro grupos depois e Billy observou enquanto o colega se dirigia à linha de tiro. O recruta pegou a arma e a alinhou em seu ombro com uma espécie de concentração furiosa, nunca havia manejado uma arma de fogo como todos os outros recrutas, mas parceia ter uma motivação forte por trás de suas ações, Joseph acertou duas das três balas da rajada dentro do alvo. Billy imaginou o que movia o rapaz.

- Muito bem recrutas, vocês iniciam o treinamento amanhã pela manhã, seis horas! Hoje a tarde serão escolhidos os monitores e a partir de amanhã vocês pertencerão a um regimento. Dispensados!

Os oitenta e três recrutas que haviam sobrado começaram a sair do Comando do exército, Billy foi andando lado a lado com Joseph.

- Conseguimos cara, estamos dentro!
- Sim, mas a partir de amanhã o bicho pega né.
- Certeza.

No mesmo dia, ao final da tarde, Gus entra no quarto de Billy que está deitado jogando video-game.

- Então nos veremos amanhã cedo recruta?
- Foi escolhido monitor? E já sabe qual vai ser seu pelotão?
- Sei apenas o número, 8.
- Monitor do pelotão 8 então? Muito bem Gus.
- Monitor Gus pra você recruta. Haha!

Dia seguinte, pela manhã, todos os recrutados, monitores ou não, se apresentaram ao Sgto. White.

- Muito bem senhores! Os pelotões serão divididos agora e o treinamento iniciará logo após o almoço, o último de vocês com suas queridas mãezinhas, portanto aproveitem!

Um soldado ao lado do sargento passou a ele uma prancheta.

- Todos os monitores, formem uma fila em frente ao número do seu respectivo pelotão. Recrutas, assim que eu for chamando seus nomes, alinhem-se atrás de seu monitor!

O chão possuía oito marcações, números que iniciavam no 1 e terminavam no 8, local onde Gus estava à espera dos recrutas pelos quais seria responsável. O Sgto. White iniciou a chamada de nomes, do primeiro até o terceiro pelotão seria formado por onze recrutas, enquanto os outros cinco teria apenas dez rapazes cada, além dos monitores. Os pelotões foram passando um a um, a ansiedade de Billy crescia a cada nome chamado. Joseph ao seu lado estava com um olhar perdido, quase distraído, mas com um peso, uma fixação que demonstrava que ele estava lá, ouvindo cada nome. Um por um os recrutas foram entrando nas filas de seus pelotões, até que sobraram nas arquibancadas doze rapazes. E a chamada continuava:

- DANIEL LASTEN!

Agora eram onze, só mais um nome seria chamado e então os restantes fariam parte do pelotão número 8. Billy olhou para o lado, Joseph estava sem o olhar distante, estava mais inquieto agora, mexia com as mãos, apertando uma contra a outra. No espaço à frente, Gus mantinha-se em posição, mas olhava para Billy, na esperança de ter o amigo em seu pelotão. O Sgto. White chamou o último nome:

- JACKSON BLU!

Billy sorriu para Gus, que retribuiu o sorriso, ao seu lado, Joseph se levantou.

- Estamos juntos nessa, irmão.

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