6 de abr. de 2011

Parte 4 - No Jornal

Escrito por Mayra Ghizoni.

Na manhã seguinte, fomos despertos pelo meu celular, programado para me acordar às 07:00 h. Meu primeiro impulso foi verificar os sinais vitais da minha mãe, afinal, ela não poderia ver o Jean sair comigo para a rua. Para o meu espanto, sua cama estava intacta, o que significava que ela não tinha voltado para casa ainda. Na situação em que eu estava, nada mal, afinal ela nem saberia da existência do Jean. Pelo menos por enquanto, isso me evitaria uma penca de problemas. Como eu havia acordado de bom humor, nem dei muita bola para o que poderia ter acontecido com a dona Luísa.

Acordei o Jean e fomos tomar café. Tudo correu tranquilamente, saí de moto com ele e o deixei em casa. Realmente, ele morava longe. Cheguei na redação cerca de 10 minutos atrasada, o que me rendeu algumas exclamações por parte dos colegas, devido ao fato de que nunca me atraso.

Trabalho no “Jornal Cotidiano”, e minha função é revisora de uma parte do jornal destinada a adolescentes. Minha mãe conseguiu o emprego pra mim, pois a amiga dela de canastra era funcionária de lá. Acabou que enquanto eu estagiava, fazendo algumas pesquisas idiotinhas na internet que qualquer criança de 5 anos consegue fazer, ela foi demitida por justa causa - a presidente do grupo que comanda o jornal recebeu uma denúncia de que a funcionária dela assistia a vídeos pornôs gays no horário de expediente (sempre soube) – e então eu fiquei no lugar dela.

De um modo geral eu curto meu trabalho. Como sou revisora, ás vezes tenho de ralhar com os colunistas, e eles não curtem muito, pelo fato de eu ser mais nova. Mas isso a gente releva no happy hour. Soa estranho, mas eu detesto revistinhas teens, tipo Atrevida e Capricho, e quando eu era estagiária, era forçada a procurar “fofocas” sobre Justin Bieber, RBD e Jonas Brothers nesses sites. Porém, quando subi de nível, criei coragem e relatei ao meu chefe que se fosse eu, não leria nada daquilo. Tem momentos nas nossas vidas que devemos expor nossas opiniões, dar a cara pra bater e o momento era aquele. Ele me sugeriu uma espécie de projeto, para definirmos o rumo do caderno, e traçar pontos principais do que seria abordado. Era nisso que estávamos trabalhando, e eu tinha pouco menos de 24 horas para finalizar.

Resumindo: o público alvo abrangeria adolescentes de 15 à 20 anos, nada como antes, que certamente guriazinhas sub 15 aficcionadas por Restart e Cia adoravam ler. O conteúdo não teria mais as gírias retardadas do momento, como: “adogo”, “meda” e “sinistro”. Era um projeto ousado, mas eu tinha certeza de que seria bem aceito pelo público.

Logo que sentei na mesa, meu telefone tocou. Era a Tha.

- Meniiiina, tenho tanta coisa pra te contar, meu Deus!
- Oi Tha, escuta, preciso terminar umas coisinhas aqui, posso passar aí na tua sala daqui a pouquinho?
- Ai Anne, você tem o dom de estragar meu humor hein.
- Desculpa amiga, mas eu também tenho novidades, depois te conto tudinho. Beijo.
- Hmm, adoro! Ok, passa aqui, beijo, tchau.

Sim, a Thayse além de ser minha best, também trabalhava comigo. A diferença é que ela era secretária do editor-chefe do Jornal, o que a fazia praticar suas insinuações quase que o tempo todo para ele. E este, adorava.

André Dostoiévski é o nome dele ou “Seu André” para os íntimos. No auge dos seus 50 e poucos anos, pode-se dizer que é bem conservado. Estatura mediana, cabelos quase que parcialmente grisalhos, pratica remo as sextas pela manhã e tênis as terças e sábados. Não que eu deva saber disso, mas a Thayse como sua assessora direta é praticamente uma secretária eletrônica ambulante do chefinho. O seu André é gente boa (leia-se: eu pegava). Mas como sou uma guria direita e sei que, além de configurar como assédio (eu sei, eu poderia ganhar uma grana federal com isso), ia pegar muito mal pra minha imagem na Empresa, além de saber que a esposa dele é uma vaca que vive ligando pro escritório querendo saber o que ele quer para a janta.

Passaram-se 10 minutos enquanto eu digitava a conclusão do Projeto, quando meu celular tocou, era um número desconhecido. Não costumo, mas resolvi atender. Sorte.

- Alô?
- Por gentileza, é do celular de Anne Vasconcellos?
- Sim, quem fala?
- Anne, aqui é a enfermeira Yolanda, eu estou ligando do Hospital Anjo Gabriel, será que você pode passar por aqui agora?

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