5 de abr. de 2011

XXXII: Explicando

Escrito por Fabricio Cantarella

De novo naquela noite peguei um táxi que viajou pelas ruas pouco iluminadas, com as luzes dos postes regularmente clareando dentro do carro. Coincidentemente (ou não) era o mesmo taxista, uma cara bigodudo de sei-lá-eu-quantos anos que usava uma camisa desbotada aberta até o meio do peito. Dessa vez fui eu quem puxou assunto, acho que ele ficou meio ressabiado, mas aceitou a chance de uma conversa.

- O problema é mulher, meu caro.
- Bom rapaz, se o problema é mulher você não tem muito o que reclamar né? Em vinte anos dirigindo esse táxi, todo passageiro que vinha me falando que tinha problema com mulher sempre saia ou voltava com um puta sorriso no rosto dia ou outro depois. Mas, me conte, o que se passa?
-Longa história, mas da tempo. Começa com a Lívia, estávamos juntos uns anos atrás dai ela me pegou na cama com outra e me botou pra fora, depois...

Foi a viagem toda, poste vai, poste vem e eu contando minha história. Num semáforo, três quarteirões antes do meu destino, com minha história devidamente contada, o taxista foi simples em sua resposta.

- Você sabe bem o que fazer, meu rapaz. Você já aproveitou bastante o que devia e podia, agora pensa com a cabeça de cima e resolve essa história.

Saí do táxi com o conselho pesando, "agora pensa com a cabeça de cima". Poxa! Eu sempre fiz isso, não fiz? Bom, talvez não nas três vezes de hoje com a Lívia, mas enfim, toquei a campainha.

- Achei que tivesse me dito "Até amanhã Gab".

Eu sentia um quê de irritação na voz dela, mas isso não ia ser problema.

- Foi só pra fazer suspense...
- Claro Chaz, claro.
- Sério agora Gab, desculpa por ter saído daquela forma, eu precisava fazer uma coisa.
- O quê? Sexo com a Lívia pela terceira vez no mesmo dia?

Agora ela estava realmente irritada, é, aquilo seria um problema.

- Como você...
- Ela me ligou, me contou isso e me disse que talvez você aparecesse por aqui. Me disse pra te esperar ja sem roupa, pra darmos uma trepada e seguirmos em frente, mas acho que me esqueci de seguir esse conselho, ou não estava afim mesmo.

Eu acho que ela não estava afim, mas deixo margem para a dúvida.

- Gab, eu transei com a Lívia hoje sim, foram realmente três vezes sabe Deus como, mas foram. O ponto disso tudo é o seguinte, comer a Lívia é realmente muito bom, essa era a peça chave do nosso relacionamento, sempre foi. Ela é insaciável. Mas percebe, é só isso.
- E?
- Com você eu consigo viver Gabriele, com você eu consigo pensar em um futuro, eu consigo sentir saudades quando estamos longe, eu conto minutos pra te ver, pra te fazer sorrir, pra conversar contigo, ouvir como foi seu dia...
- Mas meu sexo não é bom pelo visto, ja que você ia se satisfazer com ela.
- Nunca ninguém me chupou como você me chupa, ninguém! E ninguém tem um sabor tão bom quanto você. Com a Lívia eu me sentia meio que um Charlie Sheen, entende?
- Fantasia?
- Não tanto, mas é meio por ai. Fazer com você é maravilhoso, é tipo paraíso saca? Com ela é mais pra filme pornô, é legal vez ou outra, mas não é algo que eu quero pra minha vida.

Ela ja sorria um pouco, nem tinha sido tanto problema afinal.

- Mas e agora Chaz?
- Agora? Me oferece um café, que tal?
- Não!! Folgado, você come outra três vezes no mesmo dia e ainda quer que eu te de cafézinho? Se nem me comer você vai porque você não aguenta?! Nem vem!

Eu juro que gostaria de ver minha cara naquela hora. Ela continuou.

- Mas tudo bem, me leva pra almoçar amanhã e te ofereço um café aqui depois.
- Te pego meio dia?
- Na verdade você vai me pegar la pelas duas da tarde, isso se você ja estiver recuperado, mas ta, pode passar aqui meio dia. Boa noite agora.

Depois de ter sido sacaneado até a morte, o beijo de boa noite era minha última chance de morrer com honra e como ele não dependia da capacidade funcional do meu companheiro naquela hora, fiz o melhor que pude. E foi realmente bom.

- Boa noite Gab.
- Esperei tanto por esse beijo. Boa noite Chaz, até amanhã.

Fui pra casa feliz, pensando no futuro. Peguei o mesmo táxi, com o mesmo motorista e tive que ouvir um "Eu não disse que ia voltar com um puta sorriso na cara" no caminho pra casa. Dormi tranquilamente naquela noite, mas não sem antes pesquisar no google formas para o meu companheiro estar completamente recuperado pra tarde seguinte, eu teria muita coisa em jogo naquele momento.

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