23 de nov. de 2010

XXXI: Sabendo

Escrito por Fabricio Cantarella

Nem sequer olhei para trás. Saí decidido, andando com firmeza, eu sabia que tudo em mim implorava para que eu voltasse atrás e dissesse à Gabriele que tudo tinha acabado, que seríamos felizes. Tudo em mim implorava por um beijo dela, as mãos dela nas minhas, o sorriso, o olhar carinhoso. Mas eu saí andando firme, ainda não tinha acabado, não para mim, eu tinha assuntos a resolver ainda.

O táxi vagou pelas ruas escuras, as luzes dos postes iluminavam o interior do carro em intervalos regulares, eu estava quieto, sentado no banco de trás, o motorista tentou puxar conversa umas duas vezes, mas minha cara de paisagem mostrava que eu não estava muito para papo, então ele desistiu. Eu estava imerso em pensamentos. Gabriele não saia da minha mente, eu recordava a noite toda, a conversa, as reações. E então me lembrava de Lívia.

Pausa na história para dizer algo que todos ja perceberam, eu sou teimoso, eu procuro problemas. A situação era clara, Lívia tinha abdicado da disputa, teve seus motivos, talvez pensasse que não tinha chance diante dos sentimentos de Gabriele, era só eu puxar Gab para meus braços, dar-lhe um beijo, dizer que não a deixaria nunca mais e que tudo o que passou não importava mais, o futuro era apenas meu e dela. Mas não, eu tinha que querer esclarecer tudo. Voltando na história, o táxi parou na frente da casa da Lívia.

A campainha soou, ela abriu.

- Chaz? A noite não foi boa?
- Foi, foi sim.
- O que faz aqui então, achei que nessa hora você estaria na cama com Gabriele já. Eu estava até ficando animada com esse pensamento, ja estava quase sem roupa.

E ela de fato estava, vestia apenas um robe que denunciava que ela estava sem nada por baixo, exceto a calcinha.

- Não consigo entender seu apetite sexual Lívia. É maior que o da maioria dos homens dessa cidade.
- Bom, digamos que eu apenas gosto disso.
- Enfim, posso entrar?
- Claro, claro.

Ela saiu do caminho, eu entrei. Uma garrafa de vinho estava aberta sobre a mesa de centro na sala, umataça pela metade dizia que ela estava bebendo e brincando com seus pensamentos.

- Aceita um pouco de vinho?
- Tem cerveja?
- Tem sim, vou pegar uma. Senta aí.

Ela saiu em direção a cozinha. Era fato, eu não resistia ao corpo dela, não pude deixar de olhar enquanto ela saia quase que dançando, indo buscar uma cerveja. Sentou-se ao meu lado quando voltou. Abri a cerveja e dei um gole.

- O que você está fazendo Lívia?
- Como assim Chaz?
- Você simplesmente desistiu de mim e está me ajudando com a Gab.
- Ta triste porque não é mais o prêmio, meu bem?

Eu realmente estava.

- Não, claro que não. Mas depois de tudo o que aconteceu...
- Eu sei que briguei muito por você, eu tinha esperanças de ter você de volta comigo, mas não sei, não vejo em nós o mesmo sentimento que existe entre vocês dois. Comigo a coisa é mais... selvagem, eu acho.
- Hm.
- O que foi Chaz?

Eu não sabia o que era, eu estava de fato triste quando eu devia estar feliz.
Por que? Eu não queria a Gabriele? Não, não podia ser isso. Lívia mesmo disse que existe sentimento com a Gabriele, e forte ainda por cima. Então por que raios eu estava triste com a desistência de Lívia?

Bebi mais um gole de cerveja, e mais um e mais um e então virei metade da lata de uma vez. Lívia ainda só me olhava, não dizia nada, acho que ela não sabia o que dizer. Fechei os olhos, senti o líquido gelado descer pela minha garganta enquanto uma gota escorria pelo canto da minha boca. Senti a sensação da gota de cerveja descendo devagar até meu queixo, onde foi interrompida. Abri os olhos, Lívia estava mais perto, com uma das mãos ela limpava a gota de cerveja. Olhei-a por um instante, ela não recuou. Puxei-a para mim e pela terceira vez no mesmo dia, estávamos nos atracando, em cima do sofá dessa vez.

Quando terminamos eu descobri o que estava acontecendo comigo.

- Não devíamos ter feito isso Chaz.
- Talvez não devíamos, mas eu precisava.
- Por que?
- Eu sei exatamente o que sinto agora.
- E seria?
- Acha que a Gabriele ficou brava com o jeito que eu deixei ela depois do jantar?

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