24 de nov. de 2010

Parte 2 - No Bar

Escrito por Mayra Ghizoni.

“O problema não é você, sou eu”.

Tínhamos chego no bar. O Plus estava lotado. Havia uma mesinha no canto da parede, vaga. Sentamo-nos. Pedimos uma garrafa de cerveja, enquanto olhávamos ao redor. “Quanta gente desocupada, em plena terça-feira bebendo feito loucos.” – refleti.

Ficamos cerca de 50 minutos conversando sobre coisas cotidianas, rimos bastante, reparamos e fofocamos sobre as meninas que ali se encontravam. Eu me sentia bem com ele. De certa forma, nenhum de nós mudou a maneira de ser, desde os 16. Agora tínhamos 19. Erros e acertos fizeram parte do nosso aprendizado, e aprendemos a perdoar. Eu já não sentia mais raiva dele, e ao que parecia, ele também esquecera do chifre.

- Bah, cerveja me dá uma puta vontade de ir ao banheiro. Espera aí que eu já volto – eu disse.
-Não, espera aí que eu vou contigo. Tá cheio de homem aí querendo te pegar, tu acha que eu vou deixar eles te agarrarem? Nem morto. – Jean levantou-se, e eu o fitei me perguntando o porquê daquela atitude. Ele percebeu.
- Que foi? Não quer que eu vá?
- Capaz guri, vem logo. – e o puxei pela mão. Só estava esperando a oportunidade certa pra pegá-lo, e ao que parecia, era esta.

Com muita relutância chegamos à porta do banheiro. Naquele momento eu já nem sentia mais vontade de entrar. Encostei na parede, enquanto o olhava displicentemente. Sussurrei baixinho um “vem cá” simultaneamente puxando devagar sua camiseta branca em gola “V” para perto de mim. Tava pouco me lixando para as meninas fazendo fila querendo entrar no banheiro, eu só queria sentir o cheiro dele me invadir. E puta merda, que cheiro bom. Por que mulher gosta tanto de cheiro de homem? Não é nem de perfume que eu tô falando, é, sei lá, deve ser algo parecido com aquilo que os animais exalam quando querem acasalar. Feromônio, ou algo do tipo. Claro, nada que um perfume também não resolva. Mas o aroma que o Jean exalava, não me fazia pensar em outra coisa, senão arrancar a roupa dele ali mesmo. Obviamente eu não faria isso, mas te garanto que a gente se pegou legal. Ele me beijou tão docemente que eu podia ficar ali por horas, sem reclamar. Geralmente, quando nos invadimos de “desejo” a vontade é de agarrar sem dó, não é verdade? Aquele beijo molhado e lingual, onde as bocas parecem que vão se engolir... não é ruim, vai, mas é bem aproveitável quando é um beijo leve e demorado.

Enquanto estávamos ali, ouvi uns rumores perto de nós, do tipo: ‘só falta se comerem’. Voltei do meu transe com o Jean e o afastei.

- Ei, vamos lá fora? – meus olhos implorando para ele dizer sim.
- É, vamos sim. – Ele sorriu, apontando os olhos pra fila atrás da gente.

Assim que ele se virou para me conduzir entre a multidão, eu gelei. Atrás da mesa de sinuca, postava-se o Cadu. Puta que pariu esse guri, por que ele tinha de estar ali? Pra piorar, quando olhei-o, ele já estava me olhando. Por quanto tempo? Será que me viu beijando o Jean? Ai caralho. Me fudi. Para o meu espanto ele levantou as sobrancelhas e sorriu. Retribuí o sorriso, olhando para baixo. Em seguida Jean me puxou para fora do bar.

Eu queria voltar lá. Mas ao mesmo tempo queria fica ali com o Jean. Porra Anne, para de se putiar. O Jean tá aqui né, ok, pega ele. Amanhã é outra história. Não, não é outra história. Merda, ele tava lindo apoiado na mesa de sinuca. O que que era aquele cabelo encaracolado?

- Anne, tudo bem? – Jean deve ter percebido que eu parecia perturbada.
- Hm, é, tudo bem. Escuta, eu preciso ir pra casa agora. Muito obrigada pela noite – eu estava sendo sincera, mas isso pareceu mais um pedido de desculpas do que uma despedida informal.
- Ah, claro, eu te levo. Você mora no mesmo apartamento ainda?

Droga, eu não podia fazer isso com ele. Jean sempre foi gentil e carinhoso, desde quando nos conhecemos. Por que eu me incomodei tanto ao ver o Cadu?

- Ah, obrigada. Sim, moro lá ainda. Por sorte é perto daqui, é só descer a próxima rua. Mas e você? Vai como pra casa?
- Ah, eu volto a pé mesmo, amanhã de manhã tenho tempo livre, não faz mal voltar mais tarde. Meu carro está na mecânica.
- Espera, tu mora longe daqui. Não quer dormir lá em casa? Minha mãe deve estar dopada, roncando horrores, nem vai notar que você esteve lá.
- Não Anne, capaz. Não quero te incomodar, nem causar problemas pra ti. Além do mais, nem trouxe escova de dentes.
- HAHAHA, qual é Jean, vai dar uma de mulherzinha? Relaxa, você não incomoda. Amanhã de manhã tu sai junto comigo pro trabalho, aí eu te deixo em casa.
- Você é louca. Não tem medo de levar um desconhecido pra dormir no teu apartamento não? Eu posso te estuprar... – disse ele, se aproximando de mim manhosamente.
- Quer saber? Eu adoraria. – e fiz uma cara de puta, da qual me arrependi mais tarde.

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