1 de dez. de 2010

Parte 3 - No Apartamento

Escrito por Mayra Ghizoni.

Chegamos ao meu apartamento tentando não fazer muito barulho, afinal, eu não sabia se a minha mãe estava mesmo em casa. As quintas ela geralmente joga canastra com as amigas, o que a deixa fora de casa por pelo menos até as duas da manhã. Eu sei, o que pensar de uma senhora de meia idade fora de casa, até de madrugada, em pleno dia de semana? Ela está de férias. O que me força a ficar fora de casa também, devido ao fato que quando nos dirigimos uma a outra, sempre há discussão. O que consequentemente, me deixa de muito mau humor.

Ao entrar, deparei-me com um bilhete em cima da mesa: “Estou na Rúbia, bjs, Mãe.”
Como eu previra, ela ficaria fora de casa até mais tarde, o que me dava um bom tempo livre com o Jean.

- Minha mãe vai chegar só de madrugada. To morrendo de fome, tás também?
- Pior que estou, hoje trabalhei pra caramba – ele disse com um ar cansado.
- Hm, então vou fazer umas panquecas. Gosta de frango com queijo?
- Adoro, quer ajuda?
- Se tu arrumar a mesa pra mim e colocar a cerveja no congelador, pra mim ta ótimo!

Jantamos relativamente quietos. Jean não economizou nos elogios às panquecas, mas eu sabia que ou ele estava sendo educado, ou estava realmente com fome.

- Então, o que quer fazer hoje? – eu disse, quebrando o silêncio.
- Como assim? – ele respondeu curioso.
- Ué, tu não acha que eu te convidei apenas pra dormir aqui em casa né?- meu tom era de impaciência.
- Err, como vou saber? O que tu tens em mente? – ele decididamente não sabia o que responder.
- A gente podia assistir a um filme.

Se ele fosse realmente esperto teria notado que havia outra intenção com esta frase. Aliás, qualquer homem com 19 anos teria assimilado o sujeito oculto da oração, assim como em qualquer outra frase ou monossílabo, por menos que tenha segundas intenções. Lei da vida: Homens querem transar, mulheres querem perceber o desejo deles. Fiquei estupefata com a frase que veio a seguir, tanto que devo transcrevê-la em minúcias, simultaneamente com a feição de quem a proferiu.

- Tudo bem.

Seu olhar não encontrou o meu, e sim o assoalho. Ele estava entediado.

Porra, tudo bem? “Tudo bem” é o mesmo que “ta né”. Qual é o problema desse guri? Por que não fez como todos os outros que eu convidava a subir pro meu apartamento? Me agarrar na escada, me fazer errar a chave da porta com os beijos na nuca, impedir-me de fazer a porra das panquecas e simplesmente dizer: “tenho idéia melhor”, ou nem isso, bastava me puxar pro quarto e fim de papo! Não entendia o porquê do Jean agir diferente comigo. Mas ok, tentei me colocar no lugar dele. Respirei fundo umas duas vezes e matutei: “beleza, vamos nos fazer de difíceis, talvez você goste assim, pode ser que te dê tesão assistir um filminho”.

- Ótimo. Quero assistir Sr. e Sra. Smith de novo. – fiz a minha cara habitual de menininha .
- Credo, tu tem cada gosto hein.
- Como? – perguntei incrédula.
- Na boa Anne, eu não vim até aqui pra assistir filminho. Muito menos reprise. – Ele estava sério. Esperei. – acho que cometi um erro vindo até aqui.

Jean recostou-se na cadeira olhando para o teto.

- O que você quer então? Me desculpa, mas estou tentando te entender de todas as formas possíveis e você sequer dirige o olhar pra mim. – Empalideci e meu tom de voz estava levemente alterado – tu tá me achando com cara de palhaça? – continuei – e na boa, se achou que realmente cometeu um erro, a porta é por ali. E não faça questão de voltar.

Um dos meus defeitos é esse. Quando me tiram pra ”lóque”, me emputeço facilmente. Não sei calar a boca. Nem ao menos sabia o motivo de eu estar impaciente e sendo ríspida com Jean. Acho que nem mesmo ele.

- Quer saber realmente o que eu quero? – agora ele me encarava, e enquanto falava se levantou da cadeira de súbito, me fazendo estremecer. Levantei também.
- Quero. – respondi com o mesmo tom impaciente.

Jean me puxou pela cintura, senti suas mãos deslizando nas covinhas das minhas costas nuas. Separou uma mecha de cabelo que caía no meu rosto e a colocou atrás da orelha. Senti sua respiração em cada poro do meu corpo. Em seguida ele respondeu.

- Quero você, sua boba.

Nem respondi. Beijei aquela boca como se não houvesse amanhã. No caminho para o meu quarto xinguei-o de viadinho mal comido, piá de bosta, dentre outros “adjetivos”, os quais nem todos os leitores entenderiam.

Confessar-lhes-ei uma coisa, caro leitor ou leitora: foi o sexo mais prazeroso que já fiz. Apesar dos meus 19 anos e minha cara de idiota, já levei cerca de 5 ou 6 caras pro meu apartamento. E muito provavelmente me lembrarei dessa noite até o fim dos meus dias. Eu tava enlouquecida com o Jean se fazendo de difícil; na grande maioria das vezes, é a guria que se faz, e admitam homens, vocês adoram. Durante aquela noite, Cadu não habitou meus pensamentos.

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