19 de out. de 2010

XXVI: Espairecendo

Escrito por Fabricio Cantarella

- Chaz! É o Beto, tudo bem?
- Beto! Que surpresa, quanto tempo!
- Sim sim. Chaz, me diz uma coisa.
- Digo.
- Ta disponível pra uma viagem?
- Viagem?
- Sim, quatro dias. Partindo no sábado.
- Pra onde?
- Argentina.

No sábado, logo de madrugada, eu já estava pronto. O avião sairia às nove em ponto, portanto tínhamos que chegar no aeroporto por volta das sete e trinta. Já havia checado umas duas vezes minha bagagem, por medo de esquecer algo ou de quebrar alguma regra da companhia aérea, voar de avião anda tão complicado hoje em dia. Só faltava o Beto passar para partirmos. Ele veio num táxi, por volta das seis e pouco.

- Tudo pronto?
- Mais que pronto! Vamos!

Chegamos com tempo de sobra no aeroporto, fizemos o check-in, despachamos as bagagens, enrolamos na sala de espera e finalmente, faltando dez minutos para as nove, embarcamos. Depois de acomodados em nossos lugares perguntei o que iríamos de fato fazer na Argentina, percebi que não havia feito isso ainda na empolgação de viajar.

- Que vamos fazer la afinal?
- É meio que um congresso de engenharia. Mas lembrei que tínhamos planejado essa viagem só que não a fizemos, dai te chamei.
- Haha, obrigado. Veio em boa hora esse convite.
- Ah é, porque?
- Longa história.
- Temos tempo.
- Então ta.

Passei a maior parte da uma hora de viagem contando os detalhes turbulentos das minhas histórias de amor. Beto ria, comentava e discutíamos detalhes sórdidos. As opiniões dele clareavam pontos confusos para mim, é difícil ter uma visão clara da situação quando se está no meio da tempestade. Chegamos na Argentina no meio da manhã.

Almoçamos numa churrascaria e saímos para dar uma volta, conhecer a cidade. Encontramos uma pequena adega, aconchegante e convidativa. Provei todos os tipos de vinho que o simpático atendente nos ofereceu, e como Beto não toma uma gota de álcool, tive que tomar por ele. Comprei 5 garrafas, conversávamos sobre futebol e foi a última coisa que eu lembro.

Acordei em lençóis impecavelmente brancos. Meu corpo implorava por água. Tudo estava girando. Aquela sensação me visitava novamente, ressaca. Olhei em volta o que parecia ser um quarto de hotel. Lá estavam as 5 garrafas de vinho, ao lado da porta do banheiro, todas vazias. Encontrei o relógio que marcavam 13:49.

Levantei, zonzo, com a boca seca. Dirigi-me ao frigobar, tentar achar algo bom o suficiente para tentar me curar. Agarrei-me a uma garrafa d'água e mantive-a em meus braços enquanto tomava banho. Beto chegou em algum momento dessa minha jornada em busca de água. Encontrei-o sentado na cama quando sai do banho.

- Você bebeu um pouco ontem.
- Desculpa Beto. Aqueles vinhos são realmente bons.
- Relaxa. Jantei no restaurante do hotel ontem e já dei um pulo no congresso hoje cedo.
- Como foram as duas coisas?
- Legais.
- Prometo que te acompanho hoje.
- Acredito.

Beto esperou enquanto eu virava gente de novo. Saímos para comer algo e depois andar novamente, sem vinhos dessa vez. O jantar foi no restaurante do hotel e o segundo dia na Argentina passou sem mais muitas novidades. Minha mente estava livre, por hora.

Saímos na terceira noite, um bar nos arredores do centro de Córdoba. O intuito era relaxar um pouco, afinal tinha sido um dia pesado, até para mim, no congresso. Encostamos no balcão, uma cerveja para mim e uma Coca-Cola para Beto, alguns amendoins e começamos a comentar sobre as palestras do dia, os apresentadores das palestras do dia, a cidade, o bar, as mulheres do bar.

Uma ruiva nos olhava a todo instante. Não pudemos deixar de conversar sobre ela.

- Gosto dela.
- Gosto de como ela olha para cá.

Ela notou nossos olhares, levantou e foi caminhando na direção do banheiro. Que por acaso ficava logo depois do balcão.

- ¿Puedo comprar un trago?
- Si. Me llamo Mabelle.

Mabelle era graciosa como o nome sugeria, tinha curvas suaves, pele delicada nos traços macios de seu rosto, porém, de trás daquela doçura existia um sangue latino, quente, traído pelos cabelos vermelhos como fogo. Ela elegantemente insinuava, atiçava nossas imaginações, hipnotizava, tanto eu, quanto Beto. Fomos presas fáceis para aquela fera de cabelos rubros.

Acordei com Beto me apressando, faltavam duas horas para o vôo de volta. Um fio de cabelo vermelho jazia nos lençóis brancos. Beto logo captou a confusão em meu rosto.

- Te conto tudo no avião.

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