6 de out. de 2010

XXV: Convidando

Escrito por Fabricio Cantarella

E lá estava eu, completamente nú, com Gabriele sentada sobre mim, ainda nas remanescências do nosso último encaixe. Os cabelos caídos sobre os ombros, alcançando os seios claros sob os raios de sol que entravam pela janela e a respiração pesada, arfante, sinalizava o que havíamos acabado de fazer.

Eu não conseguia descrever para mim mesmo o que tinha acontecido, como tínhamos parado lá, deitados em algum lugar da casa, ela sobre mim. Minha mente havia se confundido entre os flashbacks daquela noite tempos atrás e a manhã, onde havíamos saído para conversar em um café. Muito embora, ambas as situações tivessem sido, em base, as mesmas. O fato era que eu estava lá, com Gabriele.

- Eu não sei como consegui ficar tanto tempo longe de você Chaz.
- Não sou tão bom de cama assim vai.
- Não só por isso. E você é sim bom de cama.
- Por que então?
- Você é, basicamente, tudo o que eu sempre quis.

Eu não podia negar que ainda gostava dela. Ela fora, basicamente, tudo o que eu sempre quis, pelo menos antes de eu conhecer o lado frio dela, mas ainda era bastante do que eu sempre quis. Não podia negar que ela mexia comigo. Mas eu tinha um propósito e me manteria fiel a ele.

- Desculpa Gab, foi maravilhoso, não só hoje, mas tudo o que vivemos, respeito isso. Mas as coisas estão um pouco diferentes agora.
- Diferentes? Lívia mexeu novamente com você?
- Lívia é uma boa pessoa.
- Ela mexeu novamente com você Chaz! Depois de tudo o que ela fez!
- Ela esteve comigo nessas últimas três semanas, numa boa, sem planos.
- Assim como eu estive com você quando ela te largou.
- Justo.
- Você está em dúvida entre nós duas?
- Não tenho dúvidas sobre nada. O que acontece aqui é que coisas que se perderam precisam ser recuperadas, reconstruídas antes de eu dizer o que está em minha cabeça.

Gabriele, deitada ao meu lado agora, não estava satisfeita, mas sua razão dizia que ela também tinha coisas a reconstruir, coisas do nosso relacionamento que havia se perdido no silêncio daquelas três semanas. Ela silenciou. Fechou os olhos, respirou por um momento, levantou-se e foi ao banheiro se vestir. Continuei deitado lá.

Gabriele saiu, linda em seu vestido azul claro, abaixou-se ao meu lado e apenas me olhou.

- Eu gosto de você Gabriele, de verdade.
- Eu sei. Tenho que ir, não precisa se levantar.

Antes de levantar-se para sair, ela encostou a boca em meu ouvido.

- Não vou estar aqui para sempre Chaz.

Eu não queria que ela desistisse de mim. Eu gostava de Gabriele, tivemos algo forte entre nós. Mas eu era como um animal qualquer que não suporta ser ferido. Posso construir relações fortes e sinceras, mas se me ferir de alguma forma, me torno arisco, crio dúvidas, incertezas e a relação deve ser reconstruída, a confiança recuperada. Eu tive duas histórias, parecidas, intercaladas e simultâneas. Lívia havia me conquistado e me machucado primeiro, enquanto eu estava acuado, Gabriele apareceu, me conquistou e então me machucou. Lívia, nesse meio tempo, reconstruiu, da maneira pouco ortodoxa dela, mas refez algumas de nossas ligações. Era a vez de Gabriele então, e ela havia começado a tentar.

Querendo ou não, ambas estavam praticamente no mesmo patamar.
Eu não sabia o que fazer, aquilo poderia continuar para sempre e eu não aguentaria, por mais prazeroso que fosse, manter aquele jogo. Quem escolher? Por quanto tempo deixar a história se desenrolar?

Sozinho, deitado no chão claro de minha casa, minha mente vagava, passeava entre o jantar com Lívia, os lábios dela próximos aos meus, sua respiração quente, atraente e o café da manhã com Gabriele, seu vestido azul, seus cabelos caídos sobre os seios e o sorriso arfante que moldava seu rosto. Os lábios de Lívia e os cabelos de Gabriele, os olhos de uma e os seios da outra. Tudo me atraia. Tudo me excitava.

Eu queria Gabriele, com seu jeito meigo, inteligente mas desejava todas as curvas acentuadas e convidativas de Lívia. Enquanto estava imerso em meus pensamentos, alternado entre as duas mulheres mais incríveis com quem eu já havia dormido, meu telefone tocou e me trouxe de volta à realidade: já eram 2 e 17 da tarde.

Confesso que fiquei surpreendido pela voz do outro lado da linha, um amigo antigo, dos tempos de faculdade, me convidando para um evento na Argentina. Outros ares, outras pessoas, outras experiências. Era tudo o que eu precisava naquele momento.

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