28 de set. de 2010

XXIV: Revivendo

Escrito por Fabricio Cantarella

Cheguei cedo, eram umas oito e quarenta. O café estava meio cheio dado o meu humor naquela manhã, sentei-me em uma mesa ao lado de uma das vidraças, de frente com a rua lateral. Pedi uma água, estava com fome, mas iria esperar que Gabriele chegasse antes de eu pedir algum desjejum.

O sol estava forte, claro e ofuscava minha visão, incomodava, mas não queria sair daquele lugar. Parecia que aquela claridade me ajudava de alguma forma. Fiquei sentado bebendo minha água enquanto Gabriele não aparecia, pessoas entravam e saíam do café, engravatados, casuais, alguns idosos e até uns turistas, o movimento era contínuo àquela hora da manhã e isso até que me distraía.

Gabriele chegou eram exatas nove horas, pontualidade sempre fora um de seus atrativos, aliada à simpatia e aos belos dotes corporais. Sentou-se do outro lado da mesa, de costas para o sol, estava de cabelos presos e vestido azul claro.

- Bom dia Chaz.
- Olá.
- Foi bom seu encontro de ontem?
- Digamos que foi interessante, Lívia é uma boa companhia afinal.

Gabriele fechou a cara instantâneamente.

- Mas enfim Gab, está com fome?
- Não muita agora.
- Pois eu estou. Garçonete, por favor!

A garçonete era uma ruiva alta, magra, de intensos olhos castanhos, que me atendeu prontamente.

- Pois não senhor, o que deseja?
- Hm, me traz um croissant e um capuccino por favor.
- Sim. A senhorita?
- Só me traz uma água. E waffles com calda de chocolate.
- Ok. Só um momento.
- Obrigado.

Sempre admirei a capacidade dela de comer qualquer coisa e sempre manter o físico, mesmo sem se matar em academias.

- Não está muito sol aqui Chaz?
- Hm, gosto dessa luminosidade. Realça o castanho de seus cabelos. Isso sem contar na transparência de seu vestido.
- Chaz!
- Desculpe-me, mas sabe que não resisto.
- Ta, gosto disso. Como está Lívia?
- Um pouco irritada depois do seu telefonema eu acredito.
- Interrompi algo?
- Talvez, pergunte para ela.

No mesmo momento em que Gabriele se enfurecia com minha displicência o pedido chegou. A garçonete possuía belas pernas.

- Waffles e água, da senhora certo? E croissant mais um capuccino são seus não é?

Ela tinha um lindo sorriso também, assim como a camisa desabotoada num decote, que prendeu minha atenção por alguns segundos.

- Ah, sim sim. Muito obrigado.
- Ela gostou de você Chaz. Gostou dela?

Gabriele estava ácida.

- Uma bela garota.
- Chaz, eu queria te ver para resolvermos nossa situação, continuar de onde havíamos parado.
- O que ainda temos que resolver Gab? As três semanas de silêncio absoluto?
- Eu sei que foi ruim! Foi difícil pra mim também! Mas eu precisava sumir um pouco.
- Um pouco? Nesses assuntos, dois dias é um pouco.
- Você ainda me ama?
- Eu gosto de você.
- Gosta? Eu perguntei se me ama.

Eu não sabia o que responder. Eu ainda a amava, mas não queria dizer isso, ela havia me machucado. E tinha a Lívia também, eu estava dividido, agora por escolha própria.

- Não é mais tão simples assim.
- O que mudou Chaz?
- Sua falta de confiança em mim mudou algumas coisas.
- Eu confio em você!
- Depois de três semanas...

Ela havia ficado um tanto furiosa. Eu já havia largado minha displicência naquele momento, eu estava novamente chateado.

- Chaz, eu ainda te amo. Sei que não deveria ter esperado tanto tempo, mas eu estava confusa, tudo pareceu tão real. Mas eu percebi que não devia ter agido daquela maneira, eu deveria ter confiado em você, e agora estou disposta a não cometer novamente o mesmo erro. Eu te quero de volta Chaz.
- Nós éramos felizes.
- E podemos voltar a ser!
- Talvez.
- Você está em dúvida Chaz? Lívia te conquistou de novo?

Era uma boa pergunta, eu vacilei um momento e ela percebeu. Lívia havia de fato encontrado uma brecha em mim, uma forma de reavivar aquilo que tivemos um dia. A prova disso era o quase beijo do dia anterior.

- Lívia brigou por mim. Ela fez coisas das quais não gosto nem de lembrar, mas foi apenas para ficar comigo novamente.
- E o que eu estou fazendo agora? Você vai desconsiderar isso?
- Não, claro que não. Estou aberto a deixar você me reconquistar.

Terminamos o café. O ambiente ficou irritante, um tanto barulhento para nós dois. A garçonete ruiva nos trouxe a conta, e eu não consegui evitar em dar uma gorjeta equivalente à sua beleza.
Saímos para uma volta. Gabriele segurava minha mão e eu não sabia ao certo se retribuía àquele gesto. Sob o sol quente, havia uma leve brisa que refrescava e colava o vestido azul às harmoniosas curvas dela. Acabamos de alguma forma em frente à minha casa.

- Posso subir Chaz? Sinto saudades do seu apartamento.
- Tudo bem, venha.

No momento em que atravessamos a porta, minha mente foi tragada à nossa primeira vez, naquela noite depois do coquetel de uma das minhas exposições, quando senti uma vontade em Gabriele que eu nunca havia visto igual. De volta à manhã, Gabriele me beijava profundamente, segurando-me contra seu corpo com todas as forças que possuía, fui novamente envolto em memórias cada vez mais lúcidas e acordei com o arfar dela em meu ouvido.

- Você transa maravilhosamente bem Chaz.

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