Escrito por Fabricio Cantarella
- Desculpe vir assim, sem avisar nem nada, mas não queria ficar em casa.
- Tudo bem Chaz, mas porque não quer ficar na sua casa?
- Não sei, me senti mal lá de alguma forma...
- Mal?
- Sim, talvez tenham lembranças demais naquele lugar.
- Ah...entre então.
Eu não sabia exatamente o que estava fazendo naquele momento, sei que foi impulsivo bater na porta de Lívia naquela hora, quando eu só precisava de um abrigo.
- Quer algo para beber Chaz?
- Um copo d'água só, por favor.
- Só água? Realmente, você NÃO está bem., e ela riu.
Lívia tinha um sorriso bonito, eu me lembrava pouco dele ou me recusava a reconhecê-lo novamente, mas era um belo sorriso e combinava com o rosto dela, encaixava-se perfeitamente, sem sobrepor nada. Os olhos também eram bonitos. Me peguei observando-a sorrir e logo desviei o olhar, se ela percebeu aquilo, não demonstrou.
- Desculpe...essa história toda está mexendo muito comigo.
- Consigo ver isso.
Eu não queria estar lá, definitivamente não teria ido se estivesse racional, mas meu corpo se moveu até Lívia. E eu não devia contar a ela o que estava se passando em minha cabeça, mas as palavras sairam em um fluxo impossível de ser interrompido.
- Sabe, eu achava que Gabriele confiava em mim. E ah, obrigado de verdade pelo que você fez, me fez tãão feliz...mas enfim.
- Desculpe Chaz, de verdade.
- Tudo bem, mas, eu não esperava que Gabriele me deixasse nesse estado. Esperava uns dois dias de silêncio absoluto, mas não mais que isso sabe?
- Hm.
- Meu coração está começando a se perguntar se deve continuar a esperar por ela ou não.
O rosto de Lívia se iluminou naquele momento, ela tentou disfarçar mas sem sucesso, dava quase para ver o ritmo do coração dela se alterando, acelerando.
- Não sei o que lhe dizer Chaz, não tenho autoridade nenhuma para lhe falar o que fazer.
- Tudo bem Lívia, tudo bem. Não vim aqui esperando conselhos, aliás, nem sei direito porque vim até aqui.
- Seu corpo procura o meu...talvez.
Nunca em minha vida eu havia visto um tom mais displicente que aquele. Os olhos dela colaboravam com o tom vestindo-se com um olhar vago, procurando algo no teto vazio, mas passando a mensagem diretamente. Eu não sabia como reagir, eu estava desarmado e confuso.
- É, talvez seja isso, ou não. Não sei. Sei que eu talvez não devesse estar aqui.
- Porque Chaz? Relaxe, está com fome? Faço algo para comermos.
- Hm, não sei...
- Vou fazer algo para comermos, fique aqui.
Ela saiu para a cozinha e me deixou na sala. Ela queria me prender la, eu sabia disso, mas eu não tinha forças para sair. Arrisco dizer que conseguia sentir uma ponta de curiosidade quanto ao que podia acontecer.
- Chaz?! Vem até aqui comigo.
- Ah...tá.
Ela estava cozinhando, de avental e tudo mais. O cabelo estava preso num rabo de cavalo no alto da cabeça, ela se movimentava em frente à bancada como se estivesse dançando. Abaixava e levantava, ia para lá e para cá e depois voltava. Desde que a vi não consegui tirar meus olhos dela, tateei à procura de um banco, sentei e me apoiei sobre meus cotovelos, tudo sem parar de olhar para Lívia. Ela me hipnotizava.
- Chaz?! Ta aqui na Terra?, e ela sorriu mais ainda.
- Ahn, oi. Estou sim. Meio longe, mas estou sim.
- Quer algo?
- Tem whisky?
- Naquele armário ali em cima. Pode pegar.
Servi-me de uma dose e voltei a me sentar e invariavelmente, a olhar para ela. Ela sabia que eu olhava e se movia mais ainda, fluidamente, elegantemente. Ela estava ganhando, eu estava praticamente entregando meus pontos.
Terminou de cozinhar um risoto rápido, sentamos e comemos, acompanhados de uma garrafa de vinho. Eu estava ficando leve por causa da bebida, estava ficando mais suscetível do que ja estava quando normal. Lívia sabia disso e por trás da expressão de 'boa amiga' que ela usava eu conseguia ver um ar vencedor e um fogo se acendendo.
Puxou sua cadeira para mais perto da minha, debruçou-se sobre a mesa e ficou me olhando. Só me olhava, com os olhos atirando suas intenções em mim e me puxando para ela ao mesmo tempo. Os lábios quase me hipnotizavam, as mãos iam de encontro às minhas, milímetro por milímetro sobre a mesa, ela se aproximava de mim e me tragava para junto dela. Seus olhos fixaram os meus e chegamos mais próximos e mais próximos e muito próximos, tão perto que eu ja conseguia sentir a respiração dela, estava calma, confiante. Seus lábios começaram a tentar alcançar os meus, que por sua vez se preparavam para ir de encontro aos de Lívia...
Carry on my wayward son, there'll be peace when you are done....
Dei um pulo, meu celular tocava alto a música do Kansas que eu tanto me identificava. Nem olhei para o identificador de chamadas no visor, simplesmente atendi.
- Alô?!
- Chaz?!
Era uma voz conhecida, eu não a ouvia a muito tempo, mas ainda me fazia pular.
- Gabriele?
- Oi Chaz, podemos conversar?
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