9 de set. de 2010

A lagoa que todos conhecem desde sempre mas não sabem quem foi que lhes ensinou como chegar la

Escrito por Fabs.

Existe um lugar chamado Felicidade.
Felicidade é uma lagoa pequenina que fica bem no meio de tudo. É bem azul quando olhada de longe. De perto, é límpida, super transparente, mas é uma lagoa comum apesar de tudo. Só que suas águas são realmente especiais pois, apesar de serem refrescantes e matarem a sede como nada igual, elas são viciantes e a abstinência delas é algo simplesmente cruel.

Beber das águas contidas na Felicidade é bastante simples, elas estão ao alcance de qualquer um, pode-se colocá-las nas mãos, em uma caneca ou em um balde e beber tudo de uma vez ou de gole em gole, como um passarinho. A única condição estipulada para se conseguir um pouco de água da Felicidade é que se tenha um motivo sincero, só isso. Não importa qual seja o motivo desde que ele seja sincero ao coração.

Um dia existiu um pequeno garoto.
Ele era normal como todos os garotos de uma década mais ou menos de idade. Tinha cabelos curtos, usava shorts, camiseta e tênis e gostava de correr, pular, jogar video-game e colecionar super-heróis. Todo dia ele ia a uma lagoa. Era estranho pois ele não se lembrava do primeiro dia que havia ido parar naquela lagoa, não se lembrava se tinha ido sozinho ou com alguém, não sabia se alguém tinha ensinado o caminho pra ele, só sabia que conhecia aquele lugar desde sempre e todo dia ia até la e bebia daquela água fresca, de monte.

E o tempo foi passando. Sempre com o garoto visitando a lagoa.
Ele não faltava um dia! Sempre chegava, se sentava e bebia daquela água. Mesmo ele deixando pra trás os tênis com luzes piscantes e parando de correr e pular como antes, mesmo ele começando a se preocupar com as roupas que usava e como estava o cabelo, ele sempre ia até a lagoa. Todo dia. Só que com o passar do tempo ele percebeu que estava bebendo menos daquela água.

Ele se lembrava que antes podia beber umas três bacias da água em um dia qualquer de verão, mas naquele momento ele só bebia uma, que depois virou uma jarra, que virou um copo grande, que depois virou um copo um pouco menor, que depois virou um copo de requeijão...
Mas apesar dessa percepção a vida parecia continuar. A abstinência batia forte virava e mexia, mas ele não parecia saber o que era que estava acontecendo. Mesmo a resposta estando na frente do nariz do pobre coitado. Ele se perguntava "Que raios ta acontecendo?!?" mas ninguém sabia falar, porque todos se perguntavam a mesma coisa e todos tinham a resposta repousando no pequeno copo nos quais eles bebiam a água daquela lagoa.

Dai um dia o garoto, que naquele momento era já um rapaz vivendo entre a segunda e a terceira década da vida, encontrou uma garota que lhe fez uma pergunta que ele conhecia de cor. "Que raios ta acontecendo?!?" Ela tinha um copo igual ao dele na mão e a fina camada de água que jazia dentro do copo da garota reluziu nos olhos do rapaz. Ele ficou maravilhado com aquele brilho. Então, como se do nada, uma questão surgiu na cabeça dele. "E se jogássemos esses dois pequenos copos meio vazios fora e juntos carregássemos uma bacia bem grande?"

Ela ficou meio ressabiada, "Como assim jogar meu copo fora?"
Ele insistia, só que ela não via o brilho que ele via. Na mente do rapaz era óbvio que eles tinham que trocar os copos por uma bacia, mas ele não conseguia mostrar isso à ela.
"O que farei?", pensava ele a todo momento. As mãos dela encaixavam perfeitamente, juntas com as dele, naquele recipiente grande que eles podiam encher com muita e muita água da pequena lagoa, mas o receio dela impedia tudo isso. Só que ele insistia.

Um belo dia de inverno ele colocou a bacia nas mãos dela e segurou do outro lado, dentro da bacia tinha uma lâmina fina d'água, era tudo o que o antigo copo dele podia carregar, mas foi o suficiente para mostrar seu brilho à garota. E ela sorriu.

Daquele dia em diante eles trocaram seus pequenos copos por um recipiente grande, que cabia muita água, e depois o recipiente cresceu e cresceu e cresceu, e sempre cabendo mais e mais água. E eles sempre carregaram o recipiente juntos, lado a lado, mão com mão. Bebiam daquela água juntos também, eram um só afinal. Mas eles se perguntavam o que era tudo aquilo. Sabiam que precisavam um do outro, que não tinha como sem um deles, mas não sabiam de fato o que era aquele recipiente, nem aquela água e nem aquela lagoa que os dois conheciam desde sempre mas que não sabiam como haviam aprendido o caminho até lá. Até que um belo dia, enquanto iam até a lagoa para pegar água, a garota tropeçou em algo no chão. Ela ficou assustada e ele a ajudou a levantar, quando certificou-se de que ela estava bem, pegou-a pela mão e colocando o recipiente de lado foram ver o que, naquela borda lisa de areia fina, havia feito ela tropeçar. Era um pedaço de madeira, enterrado, com uma parte apenas para fora.

Ele desenterrou. Era uma plaquinha bem simples, de madeira escura, parecia velha, mas era bastante firme, forte e tinha algo escrito. Juntos, sempre juntos, eles leram as letras rabiscadas de carvão na madeira da placa: "Felicidade".

Então eles olharam um para o outro, deram-se as mãos, sorriram e se beijaram.
Dizem por ai que o reflexo que ele viu tinha um tom cobre, como se de whisky ou de um vestido.
Mas só o que se sabe, é que naquele momento, era destino dos dois e só dos dois juntos, desvendar aquela pequena lagoa que todos conhecem desde sempre mas não sabem quem foi que lhes ensinou como chegar la.

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