7 de set. de 2010

XXI: Desculpando

Escrito por Fabricio Cantarella

- Vamos a um barzinho novo que me indicaram! Disseram ser melhor que os que íamos antes, pode ser?
- Claro, claro Lívia. Você decide.
- Tudo bem então, mas a primeira rodada é por sua conta!
- Haha! Está certo então.
- Tão bom te ver sorrir de novo Chaz. Eu sei que você ainda tem mágoas guardadas em relação à mim, mas tudo bem, quero mudar a imagem que ficou de mim.
- Está tudo bem Lívia. Realmente aconteceu muita coisa, mas não quero pensar nisso agora. Estou aqui com a Lívia que eu conheçi há tempos atrás, a pessoa razoável que conheçi tempos atrás.

Sentamo-nos numa mesa da canto, tentando sair do excesso de barulho que estava o centro do barzinho, onde várias mesas cheias de gente mantinham conversas animadas e aqueles que ja haviam bebido um ou outro chopp além de sua própria conta falavam gritando e batiam na mesa para provar seus pontos na conversa. Estávamos só nós dois naquele dia, os amigos que Lívia tinha convidado não puderam deixar seus compromissos para se juntarem a nós, portanto, éramos só nós dois naquele dia.

- Desculpe Chaz.
- Porque?
- Eu sei que te atrapalhei muito nesses últimos tempos.
- Tudo bem Lívia, não quero falar disso agora.
- Tá.

Lívia parecia de fato arrependida do que havia feito, mas não era hora para uma conversação sobre aquele assunto. Eu não sabia como estava meu estado de espírito ainda. Estava bem, mas não estava. A indefinição reinava dentro de mim e eu também não queria muito mudar isso. A situação não era das melhores para eu tomar uma decisão, portanto não queria ter de fazê-lo.

Tinha ficado três longas semanas sem contato nenhum com as partes da minha vida. Só o que eu ouvia era o som do telefone chamando e a voz mecânica da caixa postal de diminuindo as esperanças de algum contato, de alguma solução para aquele impasse. Gabriele deliberadamente ignorava minhas tentativas de consertar as coisas que eu simplesmente não havia estragado, Lívia tinha sumido por vontade própria e, apesar de toda a raiva que eu sentia por ela, não ligaria de ter um momento ou dois de contato para ver que toda aquela situação não era um sonho e que havia realmente pessoas na minha vida.

E tomamos alguns copos de chopp, conversando sobre nada em especial, o tempo, a política e soltando comentários venenosos sobre as pessoas que estavam no bar aquele dia. Em um belo momento, o garçom entregou a Lívia um guardanapo dobrado ao meio. Ela fez uma cara de espanto para mim quando pegou o guardanapo na mão, eu ja segurava uma risada. Ainda existia essa de bilhetes rabiscados em guardanapos de bar? Lívia abriu para ler o que estava escrito. Em letras corridas de uma caneta azul de ponta grossa o bilhete dizia:
"Se quiser mais do que só ficar conversando, me liga."

E seguia o número de telefone do rapaz logo abaixo daquela única linha escrita. Eu ria muito. Lívia depois de uns três segundos de imobilidade me acompanhou na risada, o garçom havia dito que não podia falar quem era que tinha mandado o bilhete, Lívia teria de ligar para ele para descobrir. Posso jurar que vi os dedos dela roçando o celular sobre a mesa, mas ela não fez nenhum movimento enquanto estávamos lá sentados, apenas riu cada vez que leu o bilhete. Bebemos mais uma rodada de chopp em homenagem ao desconhecido.

Já pro começo da noite, final do happy hour, Lívia pegou meu celular de cima da mesa. Eu apenas observei. Ela olhou por um minuto ou dois para a tela do telefone, mexeu em um botão ou dois, me olhou e falou num ritmo lento, meio mole ja.
- Quantas ligações você fez para ela depois daquele dia?
- Algumas, porque?
- Algumas? Só algumas? Você gosta mesmo dela né?
- Gostava... gosto.
- GostAVA? Você disse gostAVA? Então a falta do nome dela nos registros de chamadas recebidas do teu celular te afetou mesmo Chaz querido...
- Que tom foi esse em sua voz Lívia?
- Não houve tom nenhum. É só que você a defendia tanto e dizia o quanto se amavam, mas precisou só de um atrito e ela não responde mais suas ligações.
- Pois é...
- Desculpe Chaz, não queria trazer esse assunto à tona, estou sim bastante arrependida de tudo o que fiz. Eu sentia inveja dela e queria muito você de volta. Mas eu não percebi o quanto isso te fazia mal, o quanto essa minha batalha te desgastava. E agora vocês estão separados, mas eu não consigo sentir nada além de arrependimento pelo que fiz.
- Tudo bem Lívia. Pelo menos conheci lados que não sabia que existiam, tanto meus, quanto dela e seus também. Não esperava te ver se desculpando assim.
- Nem eu sabia que faria isso...
- Mas está tudo bem, deixa esse assunto pra lá.
- Vamos pedir a conta?
- Sim, sim. Garçom!

Foi um momento estranho aquele. Lívia arrependida? Era de fato estranho. Mas ela parecia sincera e me senti mal por contestar a veracidade daquela conversa. Eu precisava pensar, precisava saber o que fazer, como agiria e como enfrentaria as coisas daqui pra frente. Precisava saber o que ainda existia e o que tinha se acabado.

Pagamos a conta, levantamo-nos e fomos caminhando por entre as mesas que agora começavam a se encher com pessoas novas, o turno da noite estava começando. Saímos do barzinho e paramos na calçada para nos despedir, cada um seguiria para um lado. Dissemos um 'tchau' amigável, tinha sido um bom happy hour, nos abraçamos e cada um saiu andando para o seu lado.

Durante o caminho até em casa, que não era tão perto assim mas eu quis ir andando, eu pensei em tudo o que tinha acontecido, as reações de Gabriele e agora, as reações de Lívia. Eu sabia que não tinha feito nada, mas ainda assim, isso não bastou. E eu tinha feito o que podia para tentar consertar tudo, mas Gabriele não me dava chance alguma. Ela me daria alguma chance? Essa questão me consumia.

Cheguei em casa, tomei um banho rápido, coloquei uma roupa, chamei um táxi.
Chegando lá, bati na porta. Ela me atendeu.

- Oi Lívia.

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