16 de ago. de 2010

XVIII: Descobrindo

Escrito por Fabricio Cantarella

Sai de casa confuso, o carro de Lívia estava parado la, mas ela não esta em lugar algum que eu tivesse visto, e o modo como ela se despediu através da porta do banheiro, suspeito demais. Ela devia estar tramando algo.

Apesar de tudo me dirigi ao hospital, fazia pouco mais de duas horas desde que havia deixado Gabriele e a saudade já me consumia, era ruim ficar longe dela, ainda mais depois de tudo o que aconteceu. Cheguei ao quarto dela, Gabriele estava dormindo. Estava com uma certa 'cara de hospital', um pouco inchada e muito clara pelo pouco contato com o sol, algumas olheiras e o cabelo oleoso, mas ainda assim era linda, tinha uma expressão angelical enquanto dormia, os olhos fechados, a boca imóvel num meio sorriso indicava um sonho bom, talvez um refúgio do que foram os últimos tempos.

Mas ela se recuperava bem apesar de tudo. Tanto fisicamente quanto psicologicamente, visitas a um psicólogo ainda seriam necessárias, mas a alta do hospital era próxima, um dia, talvez dois e ela voltaria para casa. Estava de licença do serviço, passaria os próximos dois ou três meses comigo, o tempo exato para eu terminar meus compromissos e poder ir embora com ela. Aquela cidade parecia ser um futuro melhor, longe de tudo que havia passado aqui, longe de todas as manchas. Uma vida nova depois de tudo isso viria a calhar, era o que precisávamos afinal.

- Bom dia!
- Bom dia doutor. Você parece animado., disse Gabriele com um sorriso no rosto.
- Você também deveria estar. Aqui estão os papéis da sua alta.
- SÉRIO?!

Gabriele sentou-se na cama de um pulo, ela estava agitada, feliz. Os olhos lacrimejavam, o sorriso quase não cabia no rosto.

- Sim, é só assinar aqui e aqui e você pode ir para casa., disse o doutor mostrando os formulários de alta.
- Certo!
- Obrigado doutor., minha voz saiu aliviada.

Aquela fase havia passado, o hospital era parte do passado agora, bastava apenas arrumar as coisas de Gabriele e estaríamos livres daquele lugar, livres para recomeçar de onde havíamos parado.
Tudo ficaria bem novamente.

Saímos em direção ao meu lar, ao nosso lar. Gabriele veio cantando as músicas que tocavam no rádio, parecia uma criança em direção à Disneylândia. Sorria e virava e contemplava o céu e me olhava e sorria mais ainda. Eu estava feliz, muito feliz. Parecia que nada podia dar errado. Antes de chegarmos em casa paramos em uma confeitaria, Gabriele queria comemorar aquele dia com um belo pedaço de bolo de chocolate.

- Vai estragar o almoço!
- Relaxe Chaz, tenho apetite pro almoço também. Sairemos ou comeremos em casa?
- Você quem escolhe.
- Ta, quero comer em casa então. Daí você pode fazer aquele macarrão que só você consegue!
- Haha! Não exagera Gab, é um macarrão como todos os outros.
- Lógico que não! É o melhor que existe!
- Tá., eu estava desconsertado com a alegria dela e embaraçado com o elogio.

Quando chegamos em casa tratei de ir logo para a cozinha preparar o macarrão, afinal eu também estava com fome, enquanto Gabriele foi em direção ao quarto. Ela havia dito que estava com saudades da nossa cama, e eu não a culpava por isso. Estava colocando água na panela do macarrão, os ingredientes do molho já estava arrumados sobre a bancada, iria sair um belo macarrão hoje, me sentia bem, com aquela sensação de conseguir fazer tudo certo.

Então veio um grito:
- CHAAAAAAAZ!!!

Larguei tudo e corri em direção ao quarto. Encontrei Gabriele sentada na cama, o edredon todo embolado jazia no chão ao lado da cama. Ela chorava e em sua mão, estendida para mim havia duas coisas. A primeira me deixou curioso, era um pedaço de papel. A segunda me deixou ao mesmo tempo alarmado e confuso. Na mão direita de Gabriele estava uma calcinha de renda rosa, diferente de todas que Gabriele possuía, diferente de todas que eu já havia visto.

- O que significa isso, Chaz?, ela me perguntou com a voz embargada pelo choro, deixando cair o bilhete no chão.

Me abaixei para pegar o bilhete, era de Lívia.

"Obrigada pela nossa noite juntos meu amor. Lívia

PS: Deixei minha calcinha de presente, você disse que gostou dela. Mantenha-a para lembrar de nós."

Eu estava sem reação. Gabriele me olhava, esperava por uma explicação que não saia de minha boca, e isso aumentava as certezas dela de que aquilo era real.

- Isso é tudo mentira Gab. Eu estava o tempo todo com você!
- Não sei, você pode ter saído enquanto eu dormia.
- Não!
- Eu confio em você Chaz, mas isso é difícil de ignorar. Me deixe sozinha agora por favor.
- Gab... eu não te trocaria por ninguém, muito menos pela Lívia!
- Não sei Chaz, me dê licença, quero ficar sozinha.

Ela não saiu para comer nada naquele dia, ficou trancada lá o dia todo. Algumas vezes eu podia ouví-la chorar através da porta. Nada podia dar errado, mas deu. Lívia havia de fato armado algo para me separar de Gabriele. E a noite, a campainha tocou. Era Lívia.

- O que você quer aqui Lívia! Veio ver a desgraça que você causou?, eu falava alto.
- Calma Chaz, porque esta nervoso assim?, ela soava dissimulada.
Gabriele havia saído do quarto.
- Lívia?! Que bom que você veio.
- Você parecia urgente no telefone Gabriele, vim logo que pude.
- Você ligou para ela Gab?

Eu estava confuso.

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