24 de ago. de 2010

XIX: Duvidando

Escrito por Fabricio Cantarella

- Entre e sente-se Lívia, precisamos conversar. E você também Chaz.

Gabriele parecia decidida, o tempo trancada no quarto fora marcado por muito choro e pensamentos, ela queria tirar toda essa história a limpo.

- Que foi Gabriele?, perguntou Lívia.
- Não se faça de desentendida. O que significa isso?

Gabriele colocou a calcinha na mesa de centro e entregou o bilhete nas mãos de Lívia que o leu uma ou duas vezes. Em algum momento um sorriso extremamente discreto correu os lábios dela, mas nos olhos ele era claro.

- Ele não te contou? Achei que ele te contava tudo...
- Não há nada para contar Lívia, não houve nada entre nós dois, isso é tudo uma mentira!, eu estava novamente ficando nervoso.
- Não Chaz? Resolveu esquecer o que fizemos aquele dia?, ela me desafiava.
- Não. Fizemos. Nada! NADA!
- Abaixe seu tom Chaz, quero entender o que houve, não brigar como crianças., Gabriele tinha um tom firme, Me diga o que houve Lívia.

Naquele momento Lívia fez uma cara de inocente, como se não houvesse feito nada de mais. Meu coração acelerou.

- Eu estava passando aqui na frente e vi o Chaz chegando em casa. Logo que ele entrou eu toquei a campainha e ele me atendeu só de toalha. Entrei e perguntei como ele estava, pois não nos víamos a algum tempo. Conversamos um pouco, ele me disse o que havia acontecido e começou a chorar, então me abraçou e depois de um tempo me beijou. Eu tentei dizer não, mas não resisti e acabamos indo para o quarto e fizemos amor algumas vezes.

Eu estava tremendo. Como ela podia inventar tamanha mentira? E não era possível que Gabriele iria acreditar naquilo!
As palavras claramente afetaram Gabriele, mas ela manteve-se firme e perguntou se aquilo era verdade, ela queria agora a minha versão da história.

- Não aconteceu nada Gab. Eu voltei do hospital naquele dia para tomar um banho e trocar de roupa. Logo que cheguei em casa Lívia tocou a campainha e quis me provocar, ou como ela prefere dizer, conversar. Eu fiquei nervoso, gritei o que havia acontecido e pedi para ela que se retirasse, então entrei no banheiro e só a ouvi se despedindo um tempo depois. Isso foi tudo armação dela!

Gabriele parecia ponderar as duas versões, decidir em quem acreditar. E a expressão dela não sinalizava nenhum vencedor naquela batalha, ela aceitava ambas as versões.

- Eu não mentiria para você Gab., eu estava desesperado ja, não entendia como ela podia duvidar.
- Eu sei Chaz, eu sei. Mas o que Lívia disse não é nenhum absurdo. Eu confio em você Chaz, mas sei também que o que passamos não é fácil de aguentar.
- Mas acha que eu buscaria apoio nos braços DELA?
- Não sei Chaz, não sei.
- Gabriele!!, eu estava desesperado de verdade agora.
- Desculpe Chaz, mas não sei.

Lívia apenas assistia. E eu podia jurar que via um sorriso relancear na expressão dela vez ou outra. Eu me levantei e fui até a cozinha, não sentia mais nada, apenas um vazio. Me servi uma dose de whisky que bebi de uma vez só, servi outra então, dupla dessa vez. Minha mão tremia, fazia o whisky quase escorrer para fora do copo em alguns momentos. Eu não conseguia aceitar o que havia acontecido. Como Gabriele podia duvidar de mim? Era mais do que eu podia aguentar.

- Desculpe Gabriele, eu não devia ter feito aquilo. Estou me sentindo mal, vou para casa.
- Te acompanho até a porta Lívia., disse Gabriele

Elas se levantaram, Lívia pegou sua bolsa e a calcinha de cima da mesa e foi se dirigindo para a porta enquanto Gabriele a seguia com as chaves nas mãos, antes de sumir pelo corredor Lívia virou-se para mim e sorriu. Metade do whisky caiu do copo.

Quando voltou, Gabriele foi direta.

- Vou passar o resto do tempo que tenho de licença na casa de meus pais Chaz.
- Vai me deixar?
- Preciso de um tempo para pensar., disse enquanto se dirigia ao quarto.

Ela só saiu de lá quando o pai dela tocou a campainha. Foi em minha direção, me deu um beijo na bochecha e disse:

- Não quero acreditar nela Chaz, mas não sei o que pensar de verdade. Não me ligue, deixa que eu te procuro quando for a hora certa.

E saiu sem olhar para trás.

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