31 de jul. de 2010

XVI: Imaginando

Escrito por Fabricio Cantarella

Nós dois chorávamos, Gabriele e eu, incontrolavelmente. A dor de perder alguém é imensa, a dor de perder um filho que nem ao menos chegamos a conhecer, era insuportável.

Gabriele tinha que ficar em observação, recuperar-se dos traumas sofridos no acidente e no aborto, tanto fisicamente quanto psicologicamente. Ela estava arrasada, assim como eu.
Passava o dia ao lado dela, não saia para quase nada, apenas um banho rápido no final do dia, trocar de roupas e respirar um pouco de ar fora do hospital, de resto, eu me mantinha impassível ao lado dela, não cedia meu lugar à ninguém e não soltava da mão dela nem quando eu dormia. Eram minutos difíceis, infinitos, e a dor lancinante ardia no toque das nossas mãos.

No dia seguinte ao aborto, no final da tarde resolvi sair, ir pra casa tomar um banho pois estava devastado e precisava trocar as roupas que havia colocado no dia anterior. Me despedi de Gabriele, prometi que voltaria logo e que jamais a abandonaria. Sai do quarto chorando e me dirigi para casa. Quando cheguei, mal havia entrado, arrumado minhas roupas e a campainha tocou. Era Lívia.

- O que você quer?, disse abrindo um pouco a porta.
- Nossa, que grosseria! A mãe de seu filho não esta te fazendo feliz Chaz?, ela tinha um tom ácido.
- Não fale assim!
- Porque? Não gosta que fale dela? Ou do seu filhinho?, ela provocava.
- Por favor Lívia, saia do meu apartamento., eu tentava me manter calmo, apenas tentava.
- O que foi que houve Chaz? Ta nervoso porque?
- GABRIELE SOFREU UM ABORTO LÍVIA! PORRA! NÃO CANSA DE PISAR EM MIM?
- Aborto?, ela pareceu surpresa por um momento, mas depois um sorriso contido surgiu no rosto dela.
- Sim! Um aborto! Não tem mais filho! E agora eu preciso tomar um banho e voltar para a hospital. Você sabe onde fica a porta, com licença.

Então virei minhas costas para ela e sai em direção ao banheiro. Não devia tê-lo feito.

- Tchau Chaz, passo aqui algum dia para ver como você está., ela me disse de fora da porta do banheiro.

Sai do banho ainda irritado, me vesti e fiz um café rápido. Sentei-me no sofá com a caneca de café e começei a chorar novamente. Meu filho, já se foi. Nem ao menos pude nomeá-lo. Era difícil demais para mim, mas tinha que me manter forte, Gabriele precisava de mim. Acabei meu café, lavei a louça e sai em direção ao hospital, ao sair notei que o carro de Lívia ainda estava parado perto de casa, mas não a vi em lugar algum. Lívia parecia feliz quando falei do aborto, eu imaginava o que ela estaria pensando ou tramando.

Meus piores pensamentos talvez não tivessem chegado nem perto do que ela faria.
Ela estava decidida.

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