18 de jun. de 2010

XIV: Mudando

Escrito por Fabricio Cantarella

Lívia ao meu lado também repetiu a palavra grávida, mas de uma maneira um pouco mais histérica:

- ELA ESTÁ O QUE? GRÁVIDA?!?!, sua voz saiu estridente, com claras notas de irritação.
- Quem está ai Chaz?, perguntou Gabriele do outro lado da linha.

As duas vozes femininas me puxavam, cada uma para um lado, enquanto minha mente ainda jazia no transe da descoberta de que Gabriele estava grávida... e longe de mim. Eu queria vê-la, mas estava extremamente atrasado com meus compromissos da galeria, era impossível sair para uma viagem agora, justo agora.

- Quem é que está ai Chaz?
- Ah, oi Gab, é a Lívia..., consegui sair parcialmente do transe para respondê-la.
- Lívia?! E o que ela faz ai com você?, ela soava irritada, talvez fossem os hormônios.
- Ela apenas passou para me encher o saco.

Lívia me lançou um olhar fulminante, cruzou os braços e encostou-se, de cara fechada em uma das minhas bancadas. Eu queria que ela saísse para que eu pudesse conversar direito com Gabriele, mas Lívia estava decidida, tinha algo a dizer e meus sinais para que saísse foram respondidos com mais olhares fulminantes e caras fechadas, portanto, resolvi apenas ignorá-la.

- Ah, que bom...
- Mas, quero vê-la Gab.
- Eu também quero, vou pegar licença na empresa e irei te ver daqui dois dias.
- Vem de avião?
- Não, quero ir de carro, a paisagem da estrada vai me acalmar...
- Tudo bem. Estou muito feliz Gab.
- Eu também Chaz... ah, te ligo mais tarde, tenho que voltar à empresa agora. Beijos Chaz.
- Beijos Gab. Conversamos mais tarde.

Assim que desliguei o telefone Lívia levantou-se da bancada, descruzou os braços e começou:

- Vai ser papai Chaz? É assim que é? Depois de tudo o que tivemos, da nossa última noite juntos... achei que fossemos reatar.
- Você só pode estar brincando...
- Brincando? É isso que você pensa de tudo sobre nós? Que foi uma brincadeira?, ela parecia realmente irritada.

Mas quem ficou mesmo irritado naquele momento fui eu.

- Não acho que foi tudo uma brincadeira Lívia! Apenas imaginei que você fosse madura o suficiente para entender quando algo termina! E obrigado por acabar com meu momento de felicidade! Agora, por favor, saia daqui.
- Tudo bem Chaz, se é assim que VOCÊ quer... apenas saiba que não é assim que EU quero.

Lívia saiu batendo as portas da minha sala. Logo após a secretária tocou meu telefone para perguntar se estava tudo bem, porque ela havia visto a fúria emanando de Lívia, mas eu consegui responder que não era nada de mais com uma felicidade aparente, toda a cena que havia se passado não havia afetado de fato meu humor. Eu seria pai, Gabriele seria a mãe do meu filho, nada podia dar errado. Bem, isso era o que eu achava no final daqueles 5 minutos.

Tudo havia se movimentado muito rápido e algumas escolhas erradas foram feitas naqueles 5 minutos. A primeira escolha errada fora descoberta dois dias depois, com um telefonema:

- Por favor, gostaria de falar com Chaz., falou uma voz feminina.
- Sou eu mesmo...
- Meu nome é Jéssica, sou enfermeira e ligo do Hospital Central, o telefone do senhor estava anotado na carteira de Gabriele, como telefone de emergência.
- Emergência? O que houve?
- Bem, Gabriele sofreu um acidente de carro na estrada... e seu estado é grave.

Eu só consegui suspirar enquanto desabava no sofá de casa e uma lágrima rolava pelo meu rosto.

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