20 de mar. de 2010

XI: Esclarecendo

Escrito por Fabricio Cantarella

- Lívia, o que... o que aconteceu?
- Não se lembra, meu amor?

Eu só me lembrava dela me beijando e me empurrando pra dentro de minha casa, o resto era apenas um borrão disforme de batom e luzes que acendiam e se apagavam em cômodos e momentos diferentes. Fiquei alguns minutos olhando para o teto, expressão vazia, sem o esforço da lembrança e sem a surpresa de encontrar Lívia ao meu lado na cama, pouco mais de 24 horas depois de Gabriele desocupar aquele lugar. Não podia ser, eu não tinha feito aquilo, ou tinha?

Lívia se demorou pra ir embora, fez o café, arrumou minhas bagunças, limpou a cozinha das canecas vazias e taças de vinho deixadas na pia - "Então bebemos vinho...", eu resmunguei - mesmo com minha indiferença e distância, ela sorria, cantarolava, parecia feliz.

Lembro-me que fiquei sem camisa, não sei quem a tirou, mas lembro dos botões saindo de suas casas, um por um, até que a camisa foi ao chão do corredor onde ficou até Livia ir embora, acordei apenas de samba-canção, então minha calça deveria estar ao chão em algum lugar, mas as memórias ainda não passavam de borrões em minha mente, que iam e vinham em flashs que contrastavam com a realidade de Lívia me chamando ou me abraçando enquanto eu abria a geladeira pra pegar uma garrafa de água.

Eu estava incomodado, queria desesperadamente descobrir tudo o que acontecera na noite anterior, mas Lívia se recusava a contar, apenas mantinha aquele sorriso feliz no rosto, e minha mente se recusava a lembrar, só me assustava e confundia ao invés de dar uma ajuda. Pouco antes do almoço Lívia foi embora, me convidou pra almoçar na casa dela, mas diante da minha recusa, só se limitou a tentar me beijar enquanto saia, deparando-se com uma nova recusa.

Quando finalmente fiquei sozinho e livre para pensar, coloquei uma música qualquer no rádio e sentei-me no sofá para tentar refazer a noite anterior na minha mente.
- Chegamos em frente de casa, abri a porta, ela me beijou e viemos para dentro, minha camisa foi ao chão e acho que ela tirou a dela também..
O sofá tinha o perfume dela, mas não me lembrava dela sentada nele hoje de manhã, portanto deveriamos ter passado por la na noite anterior.
- Chegamos em frente de casa, abri a porta, ela me beijou e viemos para dentro, minha camisa foi ao chão e acho que ela tirou a dela também, ficamos no sofá um tempo e passamos pra mesa em seguida - a calça dela pendurada na cadeira pela manhã comprovou isso -, terminamos indo para o quarto, mas e depois disso?
O idéia do que podia ter acontecido me matava por dentro. Há alguns meses atrás eu teria matado por uma noite dessas, o que quer que tenha acontecido nessa noite, mas nesses dias, eu só pensava em Gabriele e a dúvida da noite anterior me doía.

Lembro-me que acordamos um ao lado do outro na cama, eu só de samba-canção, Lívia apenas de calcinha, com o travesseiro em seus braços, a cabeça em meu peito e um sorriso no rosto - "Bom dia meu amor." E a música que tocava no rádio me lembrava Gabriele, era a preferida dela.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...