14 de fev. de 2010

X: Errando

Escrito por Fabricio Cantarella

Sabe aquela sensação de vazio? Não exatamente em alguma parte específica do corpo, tipo, vazio no estômago ou vazio na cabeça ou vazio no peito, a sensação que eu sentia desde que Gab partiu para trabalhar em outra cidade era um vazio completo. Estranho como essa história havia me afetado, tudo bem que sempre levei bastante a sério esses assuntos, mas tudo em relação à Gabriele tinha sido forte demais e vê-la partindo por aquele portão de embarque foi algo pesado. Mas a vida continuava, o telefonema que recebi no aeroporto havia me mostrado isso.

Era Livia me chamando para um happy hour com um grupo de velhos amigos. Não estava no topo do meu animo, nem sequer num bom animo eu estava, mas achei por bem ir, reencontrar velhos amigos podia me mostrar que não estava tão sozinho quanto eu pensava. E assim me dirigi ao bar no horário combinado.

Estavam amigos de longa data, desde as épocas em que Livia ainda se sentava ao meu lado na mesa e dividia uma cerveja comigo, vários eu pouco via nesses últimos tempos portanto tivemos assuntos de sobra para atualizar. Livia estava la, bonita, alegre, contrastava comigo, desarrumado e cabisbaixo, sentou-se na minha frente, conversava com todos na mesa e me olhava com uma certa frequência. As cervejas foram e vieram até umas boas horas da noite quando todos resolveram ir para algum outro lugar um pouco mais movimentado. Recusei o convite e sai a andar a pé, Livia disse que ia comigo.

- Você não esta legal, esta Chaz?
- Não muito afinal.
- O que houve?
- Nada demais...
- Não minta para mim! Você sabe que não consegue me enganar.
- Ta, me desculpe, - disse sorrindo - é que alguém importante me deixou hoje cedo, não exatamente me deixou...
- Do mesmo jeito que eu fiz? - essa pergunta saiu em um misto visível de dor e expectativa na voz dela.

Silenciei uns minutos naquele momento, de uma hora pra outra, lembranças voltaram, subitamente, fortemente, eu podia sentir a raiva e o desespero do dia em que Lívia bateu aquela maldita porta, mas podia sentir tambem os carinhos dela, os olhares, no final das contas, Lívia havia me marcado pra sempre. Eu não deveria ter aquelas marcas como qualquer coisa além de aprendizados, mas eu as tinha como lembranças vivas, infelizmente vivas demais.

- Não Lívia, Gabriele não me deixou do mesmo jeito que um dia você fez! - uma raiva pouco controlada trespassava minha voz.
- Gabriele o nome dela então...
- Sim, era esse o nome dela, e ela não me deixou, apenas teve que partir.
- Você gostava mesmo dela né?
- Gostava? GOSTAVA? Lívia, eu amo Gabriele como um dia eu te amei, só que não espero nada dela além de compreensão quando necessário!
- Chaz, não jogue em minhas costas toda a culpa! Você errou e sabe bem disso!
E eu tinha mesmo errado, foi simples, umas doses de whisky a mais e uma bela loira, cliente da galeria acordou ao meu lado na cama, com Lívia gritando da porta do quarto sem ao menos esperar explicações. Mea culpa.

A raiva subia de ambos os lados agora, era quente, forte, ardia.
Chegamos na porta da minha casa, discutimos um bocado, mas as palavras andavam em círculos, Livia estava elétrica agora, rígida, seus olhos chamejavam e quando eu encontrei a chave certa para abrir a porta de casa, senti Lívia em meus braços, sua boca na minha... Acordei com o aroma de Gabriele e o corpo de Lívia.
- Bom dia meu amor - ela disse.

Eu me sentia sem chão.

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