10 de dez. de 2009

VIII: Escapando

Escrito por Fabricio Cantarella

Que raios eu poderia ter feito errado? Que raios poderia ter acontecido?

As possibilidades rodavam minha cabeça com a força de um maremoto e um bônus pela ressaca enquanto a aguá gelada rolava corpo afora. Eu tremia, um tremor mais assustado do que gelado, ansioso mais do que tudo. Queria pular fora daquele banheiro e encarar o que viria pela frente, mas sabia que não era prudente sair de la sem ao menos conseguir mudar de expressão sem sentir muita dor de cabeça.

Não entendia ao certo o porque da minha ansiedade, visto que eu estava encarando barras pesadas sem ao menos pestanejar, mas também não estava em exatas condições de pensar decentemente sobre algo, portanto, meu coração comandava e ele estava ansioso, ele sabia que as apostas desse jogo estavam altas, num nível que talvez ele não fosse capaz de pagar caso perdesse. Eu não queria perder, perdê-la.

Gabriele em pouco tempo passou a significar muito. Era a ela que estavam relacionadas minhas lembranças boas, os aromas que me despertavam eram os dela, as texturas que me atiçavam eram as dela, era como se algo novo tivesse surgido do divisor de águas que foi aquele fatídico dia em que Lívia quebrou nosso retrato e minhas esperanças junto. E eu não queria perder tudo o que eu havia construído novamente, com cuidado extra dessa vez.
Mas meu coração palpitava e eu tremia, ele pulava e eu arrepiava, ele sabia o que estava por vir enquanto eu tateava pela escuridão, sabendo e não sabendo, ao mesmo tempo, o que esperar.

Sai do banho, enrolei-me na toalha e segui o cheiro de café forte que vinha da cozinha, Gabriele me olhava com uma expressão indecifrável, o que aumentava meu pânico:
- Senta aqui comigo.
- Aconteceu algo Gab?
- Toma tua caneca, esse café vai te ajudar na ressaca...
- Aaconteceu algo Gab?
- Você precisa parar de bebe...
- Gab, por favor..., eu não me aguentava, podia vê-la se esvaindo na minha frente.
- Chaz, é difícil dizer, desculpe.

Eu a olhava fixamente, acho até que isso a intimidava, desencorajava. Seus olhos, sempre tão fixos nos meus, naquela manhã vagavam pelas paredes ao nosso redor, ela respirava fundo mas a coragem ainda fugia.
Os segundos se estendiam, o sol ia mais alto, o café esfriava, ela suspirava e eu tremia. Pareceu passar três milênios, mas ela finalmente desabafou:

- Recebi um telefonema ontem Chaz, logo pelo começo da noite. Passei a noite toda a pensar no que ouvi pelo telefone, até que tive que vir aqui, olhar pra ti e ver a verdade avassaladora das coisas.
- Gab...
- Era meu superior. Chaz, vou ser transferida até o início da semana que vem.

Naquela manhã de sábado senti, mais uma vez, meu chão desaparecer.

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