15 de jun. de 2011

Parte 9 - No Corredor

Escrito por Mayra Ghizoni.
Ao sair da cafeteria, fui direto pra casa. Minha cabeça estava ainda a mil por hora, tentando assimilar todas aquelas informações. Eu só conseguia pensar em tentar organizar minha “planilha de vida” por prioridades, qual assunto resolver de imediato. Decidi em 5 segundos – tempo de abrir o portão da garagem do prédio – que deveria entregar o projeto para o Jornal sem os arremates finais mesmo. A revisão iria passar por mim de qualquer maneira mesmo...

- E aí, pitél.

Desci do elevador no 3º andar, e dei de cara com o Jean à porta do meu ap. Putz, esqueci completamente que eu iria almoçar com ele.

- Hey! Você já está aí?
- Que hora tu pensa que é? Já são quase dez pra uma. Não sei tu, mas eu to faminto, e já fazem quase 40 minutos que eu cheguei...

Fui obrigada a fazê-lo parar de falar com um beijo. Tudo que eu NÃO precisava era de lição de moral né.

- Eu tava brincando, mas isso serve de consolo – ele disse com os olhos ainda fechados, enquanto eu mordia seu lábio inferior.
- Haha, vamos entrar logo, que hoje meu dia foi cheio.

Até agora eu não sabia por que estava tão ligada no Jean. Talvez fosse carência de mulher abandonada mesmo, o velho ditado de “já que não tem tu, vai tu mesmo”. O fato era que eu estava me apegando, e não sabia até que ponto isso nos levaria.

- Não te preocupa que eu não vou perguntar o que houve pra você estar tão distante hoje. – sua voz soava como um mantra aos meus ouvidos.
- Ainda bem que eu tenho você. – sorri, fitando-lhe os olhos brilhantes e irresistivelmente dourados.
- Jean - continuei -, o que você pensa sobre a gente?
- Isso é uma D.R.? – ele se afastou, sorrindo enigmaticamente.
- Bom, não necessariamente. Considere como um diálogo. - eu não queria assustá-lo. Não agora.
- Hm, nesse caso, vamos dialogar então. Mas antes eu queria almoçar, será que dá?
- Hahaha. Lógico, a lasanha já está pronta.

Almoçamos em paz durante 15 minutos. Havia muito tempo que eu não sentia minha alma livre e meu coração sossegado. Mas, será que ele sentia o mesmo?

- Então, acho que você me deve uma resposta... – comecei.
- Devo sim. E vou falar sem rodeios. – me segurou pela cintura e acariciou meu rosto devagar. – eu não comecei a trabalhar na faculdade por acaso. Eu tava desesperado, Anne. Tu não tem noção de quanto tempo eu passei te procurando em outros corpos e copos. Fiquei chapado pelo menos 6 meses. Não se assuste, por favor, - arregalei os olhos ao ouvir essa informação – foi uma babaquice minha, eu sei. Mas quando percebi que eu não iria conseguir superar, me mudei novamente pra cá. Meu pai teve problemas financeiros por minha causa. Eu gastava o dinheiro dele em drogas. Um dia, cheguei em casa muito doidão e quase o matei. Percebi que devia ir embora na mesma hora. Eu não podia transformar a vida da minha família num inferno, assim como a minha já estava sendo. Por sorte consegui o emprego, e de quebra você veio no pacote.

Ronaldo_chapado


Fiquei chapado pelo menos 6 meses.


Ok, agora sim eu estava assustada. O cara é um drogado e tá atrás de mim. Como eu não desconfiei antes?

- Não te preocupa , eu estou indo na reabilitação toda semana, não cheiro nada desde que cheguei aqui.
- Jean, eu... realmente não sei o que te falar, ou pensar...
-Shhh, não fala nada. Nem quero que você se meta nos meus problemas. Só preciso que você entenda por que eu preciso de ti. Você entende?
- Olha, eu preciso sair agora, mais tarde a gente conversa, ta?

Jean me olhou com uma expressão indecifrável. Sem dizer palavra, me deu um beijo na testa e saiu em direção à porta. Eu fiquei ali, encostada na parede, mirando o nada.
Não sabia o que pensar. EU precisava do apoio dele. Minha mãe tá no hospital, porra. Meu irmão sumiu no mundo, meu emprego por um fio... e lidar com um filho-da-mãe de um moleque que não sabe resolver os próprios problemas? É mais do que eu poderia suportar.
Escovei os dentes e troquei de roupa. Em cima da penteadeira vi um extrato de banco rabiscado. Pensei duas vezes. Peguei o celular e disquei.

...

- Ei.
- Oi, você veio.

Cadu se aproximou da porta do quarto onde minha mãe estava internada, e seu perfume amadeirado invadiu o lugar. As minhas narinas, pra ser mais exata.
Mamãe estava ainda desacordada, a enfermeira responsável garantiu-me que ela estaria bem dentro de no máximo 30 minutos. Enquanto isso, precisava falar com a minha alma gêmea (insira aqui um suspiro longo).

- Sua mãe está bem?
- É, é o que parece. E seu pai? Alguma melhora?
- Nada ainda. Mas sabe, alguma coisa me diz que um dia ele vai acordar. Pode ser que demore anos, ou décadas... mas eu não vou desistir dele.
- Muito bonito o seu pensamento. Gostaria que se aplicasse no dia-a-dia das pessoas.
- Isso tem a ver com o assunto que me trouxe até aqui? – e sentou-se na poltrona à minha frente.
-É, tem. Cadu, me diz uma coisa: você e a Thayse tem algo?
- A loirinha, sua amiga? Ela é gostosa.
- Haha, engraçadão. E aí, tem ou não?
- Por que tu ta me perguntando isso? Por acaso tem interesse na causa? – Ao dizer isso, colocou a mão no queixo e estreitou seus olhos para os meus seios, os quais estavam bem cobertos por um moletom. Obrigada por perguntar, caro leitor.
- OK, se tu não vai cooperar... – Me levantei e apontei a porta.
- Eeei, calma aí, eu estava brincando. Eu não tenho nada com ela. A gente saiu esses dias, mas foi só uma transa. Na verdade só saí com ela porque queria saber mais de você.
- HAHAHA, sério? Já perguntou pra ela o que ela pensa sobre vocês dois?
- A Thayse é uma vadia e sabe muito bem disso. Nenhum cara vai sentir nada por ela nunca. Só tesão, hahaha. Mas ainda não entendi aonde você quer chegar.
- Cadu, a Thayse aprontou legal comigo hoje. Quase me fez ser despedida. Me ameaçou e tudo o mais, disse que não posso sequer chegar perto de ti. Quero saber o que ela sabe sobre nós, já que a gente não tem absolutamente nada.
- Ainda, diga-se de passagem.

Damon_pegador


Ainda não temos nada gata, mas espera só pra você ver.


- Qual é Cadu, vai colaborar?
- Tá legal, quero me livrar dela também. O que tu tá pensando em fazer?
- Não sei ainda, mas preciso da sua ajuda. Topas?

Um comentário:

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