9 de nov. de 2010

XXIX: Descrevendo

Escrito por Fabricio Cantarella

E quanto a mim? Como assim e quanto a mim? O que elas esperavam? O quanto a sério elas estavam levando aquele beijo?

- Como assim e quanto a mim Gab?
- Não sei Chaz. Foi de fato especial aquele beijo.
- Especial? Eu sou especial!
- Chaz! Se controla!
- Ta, enfim, como vai ficar essa coisa toda agora?
- Não sei Chaz, não sei.

Eu estava à beira da irritação. À quatro dias atrás eu era o centro das atenções, eu era o prêmio daquela guerra amorosa e agora, Gabriele e Lívia antes inimigas numa luta por mim, se beijam e se sentem especiais uma com a outra. Eu era o centro das atenções aqui. Eu! Devia ser pelo menos.

- Chaz, calma. Eu não sei como tudo vai ficar e nem vou descobrir aqui e agora. Eu sei que depois do beijo eu senti uma vontade louca de você, mas logo em seguida não consegui resistir a Lívia. O olhar dela me transpassou com um sentimento familiar, mas que até agora não consegui identificar.
- Ta, tudo bem.
- Desculpe Chaz.
- Tudo bem. Preciso ir para casa.
- Nos falamos depois então.

Levantei-me e sai. Não consegui nem sequer olhar para trás. Como poderia, elas se beijaram, elas me trocaram. Eu queria as duas e elas deveriam me querer oras, simples assim! Não existia outra situação. Não devia existir pelo menos. Fui andando para casa.

Peguei uma cerveja na geladeira e sentei-me no sofá. Devia ser umas três ou quatro da tarde e o sol entrava pela janela aberta. Meu corpo estava la, cerveja em mãos, banhado pelo sol quente mas sem sentir um pingo de calor, muito embora estivesse com uma fina camada de suor me cobrindo. Minha mente ia longe, tentava recriar o beijo delas através do relato de Gabriele, tentava imaginar de onde tinha saído aquilo, para onde iria tudo aquilo. Dei um pulo quando a campainha tocou e me trouxe de volta ao meu corpo. Fui abrir a porta.

- Lívia?
- Oi Chaz. Acho que ficou sabendo sobre eu e Gabriele, não é?
- Ouvi algo a respeito.
- Vai dar uma de durão agora Chaz? Me deixa entrar vai.
- Ta, vem.

Lívia entrou, pegou a lata de cerveja da minha mão, avaliou o conteúdo, estava praticamente cheia uma vez que eu tinha dado apenas um gole antes de sumir em meus pensamentos, e deu um gole. Sentiu o sabor enquanto o líquido passeava por sua boca e engoliu, para então falar comigo.

- Eu a beijei Chaz. Ela estava acuada, carente, ela te queria e isso era claro. E isso me excitou.
- Você não tem limites.
- Não quando se trata de você Chaz. Ela me chamou para sair, não sei com qual motivo, mas conversamos, nos conhecemos. Na hora de deixá-la eu vi você, eu vi os lábios dela querendo os seus, implorando pelos seus, mesmo você não estando la. Eu vi que o desejo dela por você se equipara ao meu e eu vi meu desejo reconhecendo sua figura na dela.
- Você a beijou... por minha causa?
- Eu beijei ela. Eu senti vontade da boca dela. Porque eu sabia que iria sentir um sabor derivado do da sua boca.
- Lívia...
- Eu vejo você nela, porque eu vejo que ela vive você Chaz! Gabriele te ama! Por mais balançada que ela tenha ficado com o beijo, é você que ela quer. Isso só mexeu com ela porque ela esta fraca.
- Mas e você Lívia?
- Eu? Eu te desejo. Você me excita só de olhar para mim.
- Seu desejo por mim é só esse?
- Não, mas eu nunca vi algo tão intenso como eu vi na Gabriele. Foi forte, foi quente, pulsante, vivo.

Lívia estava inquieta. Ela não conseguia apenas falar, ela sentia cada palavra, cada lembrança daquela noite, do sentimento, do sabor, da textura, da imaginação. Ela se remexia, falava com os lábios e com as mãos, sentia com ambos também. Ela mudava de posição a cada frase, o fogo dentro dela não permitia que uma posição só fosse mantida. Eu sentia o peso das palavras, o calor delas, do sentimento que vinha embutido nelas.

- E qual sua posição diante de tudo isso Lívia?
- Minha posição? Não sei. Está quente demais para eu pensar. Eu preciso de você, agora!

Apesar da ferocidade e do ímpeto de suas palavras, Lívia calmamente deixou a lata de lado, pegou minha mão, acariciou-a e deu um beijo suave na palma. A calmaria deu lugar à tempestade e eu fui tragado pela fúria de um desejo ardente, a boca de Lívia perseguia a minha enquanto sua língua abusava de meus sentidos, ela passou pelas roupas na velocidade de um raio e antes que o som do trovão surgisse nós estávamos no chão da sala, em um transe frenético de volúpia e carinho, fazíamos como animais mas nos beijávamos como noivos num altar. Foi forte, feroz, sentimental e rápido.

E agora?

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