23 de set. de 2009

I: Prólogo

Escrito por Fabricio Cantarella

Inicio de noite, no balcão de um pub qualquer na Vila Madalena, entre olhares e drinks batidos.
Sabe que é atraente e gosta disso, se faz, se diverte, mas se reserva, só nos 20 minutos em que estou nessa mesa, três já se aventuraram e todos ficaram pelo caminho. Talvez sejam os olhos que chamam atenção, são vivos, misteriosos, talvez seja a boca ou algo desconhecido.

- Um whisky on the rocks por favor, uma pedra.
- Só uma pedra?, sua voz era provocante, com uma pontada de diversão.
- Se quisesse água eu pedia. Teus amigos que passaram por aqui deveriam tentar isso qualquer hora.
- Vou avisá-los na próxima vez. Mas e você? Sozinho numa sexta a noite?
- É só mais um dia comum e eu precisava relaxar minha mente.
- E não existem formas melhores de relaxar?, ela tinha um tom malicioso, mas sem intenções, ela gostava de jogos ao que me parecia.

Se chamava Carolina, garota de longos cabelos negros e olhos verdes que faiscavam na pele clara, era uma bela mulher, no alto dos seus 23 anos. Não gostava de política, nem de novelas, era adepta da sétima arte e de tatuagens de flores coloridas, cursava Direito, mas sonhava em representar a Bela, de A Bela e a Fera, na Broadway, e não acreditava no amor.
- Hollywood estragou o amor, hoje em dia ele se resume à duas garotas brigando pelo mesmo cara, não tem mais sofrimento doentio. Shakespeare sabia como amar, não acha?
- Não gosto de falar de amor.
- Uma pena, o amor é algo bonito quando reside em palavras verdadeiras. Você retrataria bem o verdadeiro amor.
- Hmm, talvez.
- Imagino como retrataria o sexo...
Os jogos eram intermináveis, ela esperava uma cantada, ela queria um motivo pra me dispensar, pra dizer que não fazia esse tipo de mulher.

- Mas, são onze já, preciso pegar o metrô antes que feche., eu disse.
- Onde mora?
- Vila Mariana, você?
- Te digo no caminho pro metrô.
Acompanhei-a até o Alto do Ipiranga e de lá, algumas quadras pra baixo até a porta do prédio onde ela morava. Subi, ela me mostrou sua coleção de CDs, algumas fotos, livros de Shakespeare, e, quando John Mayer embalava a noite, ela dispensou seus medos, largou seus jogos, sabia que iria se arrepender, afinal, ela esperava uma cantada, ela queria um motivo pra dispensar, pra dizer que não fazia esse tipo de mulher porque ela tinha medo e um coração sensível, mas Carolina se ardia em desejo naquele momento, ela queria, me queria, e quando o rádio silenciou entre uma música e outra, ela suspirou e se entregou.

Deus me perdoe, porque eu mesmo não irei.
Carolina era uma mulher que muitos procuram e que eu larguei com apenas uma lembrança e um bilhete.
Desculpe-me por não te amar.

Chaz
No final das contas, ela tinha razão com seus medos.
E, andando no sol do amanhecer nessa cidade sem coração, vou retratar meu verdadeiro amor enquanto rezo para que volte pra mim.

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