21 de jun. de 2011

Oito

Escrito por Fabricio Cantarella
- Gus, venha até aqui!
- Sim senhor!
- Aplique treinamentos físicos aos recrutas, metade do período da tarde, enquanto termino os detalhes da campanha de amanhã.
- Sim senhor, senhor. E o restante da tarde?
- Aguarde minhas ordens.
- Sim senhor.
- Dispensado monitor.
Haviam se passado um par de horas do meio-dia, alguns recrutas descansavam nas poucas sombras dispóniveis enquanto outros se distraiam jogando cartas na tenda-refeitório, a maioria deles, porém, dormia encostados nas grades que cercavam a primeira base. Gus se dirigiu até o meio da base e gritou:

- Movimentem-se seus molengas! Quero todos em fila aqui, AGORA!

Houve uma movimentação entre os recrutas, uns acordando outros, alguns colocando de volta a parte de cima da farda enquanto aqueles que ja estavam prontos começavam a formar a fila. O sol estava forte, pouco depois do ponto central do céu azul e sem nuvens que reinava naquele dia. Com a fila formada, Gus continuou:

- Descansaram bastante? Teremos uma pequena série de exercícios físicos pela frente, iniciem com um trote ao redor do campo de treinamento. Ao meu sinal.
- Sim senhor!
- Sigam-me! Quero uma distancia de dois homens entre cada recruta! Agora!

O pelotão todo iniciou uma marcha ao redor da área de treinamento, com Gus ditando um ritmo cada vez mais acelerado. Depois de meia hora de corrida, os recrutas iniciaram uma série intensa de exercícios físicos. Gus forçava os recrutas, exigia cada vez mais de cada um deles, nem Billy ou Joseph escapavam.

- Não quero ninguém fraco no meu pelotão! Não quero nenhum soldado atrapalhando marcha por falta de condicionamento físico! Vai! Vai! Vai! Mais uma série!


Não quero ninguém fraco no meu pelotão!


O Sgto. White apareceu, era metade da tarde.

- Gus! Quero você na tenda-refeitório em cinco minutos.
- Sim senhor!

Virando-se para os recrutas, Gus disse:

- Foram salvos pelo sargento. Descansem agora, dispensados!

Gus lavou-se, limpou todo o suor do corpo, recolocou a farda e apresentou-se , o Sgto White estava sentado, na mesa à sua frente, mapas e fotografias da floresta e das passagens conhecidas através das montanhas.

- Às suas ordens, senhor.
- Sente-se monitor, vou lhe apresentar o briefing do treinamento de amanhã.

Os dois ficaram sentados, conversando pelo restante da tarde. Ao sair da tenda, Gus ostentava um sorriso confiante. Billy interceptou o amigo logo na saída.

- O que aconteceu Gus? Você parece feliz.
- Reúna o restante dos recrutas na área de treinamento, por favor.
- Mais treinamento cara?
- Não, relaxa, são boas notícias.

Billy saiu correndo reunir o pelotão, todos pareciam um pouco relutantes quando ele dizia que Gus ia dar boas notícias, mas resolveram pagar para ver. Ou foram apenas porque eram obrigados mesmo. Billy tinha suas dúvidas. Quando todos estavam devidamente alinhados em frente ao monitor, ele, com um sorriso no rosto e observado de longe pelo Sgto. White, iniciou:

- Atenção recrutas, vou passar o briefing da missão de amanhã, prestem bastante atenção!

Joseph, que estava ao lado de Billy, resmungou:

- Achei que fossem boas notícias, tipo, mulher pra todo mundo.

O bom humor de Gus poupou o recruta de uma punição.

- Silencio recruta Kuerbo!

E voltando a se dirigir ao restante do pelotão, continuou:

- Muito bem, amanhã pela manhã marcharemos para o norte, a intenção é no aproximarmos do ponto onde a cordilheira começa a adentrar mais pro meio da ilha. O mapa com o caminho vai ficar exposto na tenda-refeitório após o jantar para que vocês possam traçar em seus próprios mapas. Passaremos por zonas perigosas, armadilhas nos aguardam pelo caminho. Se conseguirmos alcançar a clareira circulada em azul no mapa até a uma da tarde de amanhã poderemos parar para almoçar, caso contrário, comeremos em marcha. Acamparemos no ponto circulado em verde, uma pequena abertura no meio da mata cerrada. Teremos que montar acampamento seguro. Alguma dúvida?
- Não senhor!


Tá tudo no mapa galera!



Gus parou, olhou fixamente nos olhos de cada um dos recrutas antes de continuar.

- O Sgto. White vai avaliar o desempenho do pelotão durante a missão que começa amanhã, se nos sairmos bem, seremos designados para missões oficiais a partir da semana que vem.

Os recrutas sorriram e cumprimentaram discretamente uns aos outros, Gus chamou-os novamente.

- Silencio! Quero que descansem agora e dêem o melhor de si amanhã. Dispensados!

O jantar, servido logo em seguida, foi em clima de comemoração. Todos estavam alegres, ansiosos para a missão do dia seguinte. Poucos pelotões tinham conseguido aprovação para missões oficiais com apenas duas semanas de treinamento e a possibilidade de ser um desses pelotões animava cada um deles a ponto de até se esquecerem do gosto ruim da refeição de guerra.

No dia seguinte, antes dos pássaros anunciarem o amanhecer, o pelotão 8, comandado pelo Sgto. White e por Gus, saiu em marcha para o norte, através da floresta. A visibilidade era baixa devido à pouca claridade e à quantidade de vegetação que se estendia por todos os lados. A previsão era que encontrassem armadilhas ao amanhecer mas, mesmo àquela distancia os recrutas ja estavam alertas. Naquele momento, não era mais apenas a ansiedade em serem aprovados que estava em jogo, era a vida de cada um deles.

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Bem mais ao norte do local onde os recrutas do pelotão 8 arriscavam suas vidas no treinamento daquele dia, um outro grupo fazia suas atividades. Era hora da alvorada ja, o Sol despontava de seu descanso noturno, das padarias da cidade ja era possivel sentir o cheiro das fornadas que ficavam prontas. No beco ao lado de uma das padarias mais movimentadas do centro da cidade, que àquela hora ja iniciava seu fluxo contínuo de clientes, um indivíduo se escondia nas sombras que ainda restavam, furtivo, todo opaco, exceto pelo brilho que vez ou outra reluzia de suas mãos, enquanto esperava calmamente acocorado nas sombras, um raio de sol traiu por segundos aquilo que segurava nas mãos. Fletë.

O movimento era constante na padaria e pouco mais da metade do sol ja estava no horizonte. O fluxo de pessoas iniciando seu dia com um café da manhã aumentava e, naquele momento, diminuia. O sol subira mais um pouco. Era hora de agir. O local ja era conhecido, toda sua estrutura. Tudo devia acontecer rapidamente, sem conflitos e principalmente sem baixas. Levantou-se, misturou-se às pessoas que passavam pela calçada. Trajava uma calça leve, preta, uma blusa também leve porém cinza, com mangas longas com pulsos grandes que chegavam a cobrir as mãos. A manga direita escondia a pequena adaga, ja desembainhada. Entrou na padaria em meio a um grupo que chegava para o desjejum, cabeça baixa. A padaria era ampla e com grandes janelas à um metro e meio do chão e um metro uma da outra, eram cinco no total, seguranças eram cinco também, um na entrada, outro na saída e três entre as janelas centrais. Os pães, bolos e outras guloseimas mais ficavam dispostos no balcão, do outro lado da padaria, de frente com as janelas. Era simples, entrar e sair. Pegou uma cesta e começou a colocar dentro alguns pães, bolos, doces e salgados. Esperou um pouco, olhando uma das prateleiras, enquanto a padaria enchia um pouco mais, tudo de acordo com o planejado até então. Caminhou para o meio das pessoas que se aglomeravam em frente ao balcão de pães, encontrou a vitima perfeita, um homem com cara de quem tinha acordado com o pé esquerdo, foi caminhando em direção ao homem, disfarçada na multidão devido a seu 1,64m de altura, e quando estava exatamente às costas dele, puxou discretamente sua carteira do bolso traseiro da calça e lhe deu um empurrão que o fez cair, junto com umas outras três ou quatro pessoas, em cima do balcão de pães. Dois dos seguranças da janela correram para verificar o que acontecia, apenas dois. Acidente de percurso, as janelas deveriam estar todas livres.

Tinha que pensar rápido, os seguranças ja estavam tomando conta da situação, a movimentação estava se acalmando. Viu um copo de suco sobre uma das bancadas onde as pessoas se sentavam para tomar café, pegou e o arremessou em direção ao segurança que ficava na porta de saída. Errou, o copo caiu direto dentro do caixa. Melhor que o esperado, o segurança da saída foi socorrer o caixa enquanto o outro que ficava na janela correu na direção da bancada. Com alguns movimentos rápidos voltou para o meio da multidão, driblou os seguranças e correu para a janela. Em um salto estava fora da padaria com a cesta cheia de produtos, voltou para o beco, guardou fletë na bainha.


*Silêncio*


Missão cumprida.

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